Cristas assume ter “vontade” e “condições” para ser líder do CDS

Candidata disse contar com contributo de Nuno Melo e quer o partido a protagonizar o crescimento do centro-direita

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Líder do CDS quer crescer nas autárquicas

Sempre que era questionada sobre a disponibilidade para suceder a Paulo Portas no CDS-PP, Assunção Cristas repetia estar “ao serviço do partido” para o que fosse “necessário”. “Se for necessária para isso, também estarei”. Agora foi o momento em que pôde expressar a sua grande vontade de se candidatar à liderança do CDS-PP, no dia em que Nuno Melo desistiu por temer a “balcanização” do partido e por ter de renunciar a ser eurodeputado, sem saber quando poderá haver legislativas. A candidata quer dar um sinal de união e disse contar com Melo para estar na “linha da frente” do combate político.

Depois de anunciar a sua candidatura no Facebook, Assunção Cristas assumiu a sua “vontade”. Disse gostar de política, querer “servir a causa pública” e ter “condições para ser presidente do CDS”, numa declaração à comunicação social, nesta quinta-feira à noite, na sede do partido. A candidata defendeu que “o centro-direita tem de crescer” no novo ciclo político, aproveitando a eliminação do efeito do voto útil, e posicionou desde já o partido. “O CDS, assente na democracia-cristã e focado nos problemas concretos dos portugueses, é o mais bem colocado para protagonizar esse crescimento”, disse. A vice-presidente do partido manifestou a intenção de o CDS se afirmar como uma “robusta alternativa às esquerdas radicais”, agora que está “liberto do fantasma do voto útil" e que as regras do jogo estão “clarificadas”.

Sem Nuno Melo na corrida, Assunção Cristas é o nome em torno do qual o partido se deverá unir na sucessão a Paulo Portas. Até agora nenhuma figura do “portismo” se mostrou disponível para disputar a liderança contra a vice-presidente. Mas os apoiantes de Nuno Melo acreditam que o eurodeputado não estará excluído da futura direcção e a própria Assunção Cristas disse contar que Melo continue a “revelar as suas qualidades com brilhantismo na linha da frente do combate político do CDS”. Recusou que o partido fosse de “um homem só” como “não será de uma única mulher”.

Um dos próximos de Assunção Cristas, o vice-presidente Diogo Feio, deu um sinal do espírito de união que se vive entre os dirigentes. “Também acredito que com Nuno Melo e muitos outros será possível manter um espírito de unidade e de esperança que será exemplar perante o país”, escreveu no Facebook. Na mesma nota, Diogo Feio defendeu ainda que o CDS “deve saber fazer acordos de oposição e de regime quando o superior interesse nacional o justifique”, apesar de declarar que o partido se mantém na “oposição” ao Governo PS.

Poucas horas depois do anúncio de Cristas na rede social, o líder da distrital de Viseu, Hélder Amaral, declarou o apoio à ex-ministra. Até esta quinta-feira a única distrital que tinha assumido estar ao seu lado era a de Leiria, por onde Assunção Cristas foi cabeça de lista pelo CDS. Ao longo da tarde, multiplicaram-se as declarações a favor da candidata, mesmo por parte de quem já tinha manifestado publicamente a preferência por Nuno Melo, como foi o caso do porta-voz do partido, Filipe Lobo d’Ávila. Apesar da desilusão com a desistência, os mais próximos do eurodeputado quiseram desdramatizar o episódio.

Sem alegrias mas sem dramas. Foi assim que um apoiante de Nuno Melo encarou a decisão do eurodeputado. O vice-presidente com a tutela das relações institucionais assumiu o papel de querer unir mais do que dividir. “Tenho noção de que, não me candidatando, desiludia muita gente. Não tenho dúvidas disso. Se esse for o custo que tiver que pagar para garantir que o CDS não se balcanizará, não se radicalizá em conflitos, se eu puder ser - como quero - factor de unidade e coesão para dar mais força ao CDS nos desafios futuros, assim será”, disse na declaração aos jornalistas, ao final da manhã, quando anunciou que não era candidato e expressou apoio a Cristas. E acrescentou que a sua atitude de não querer dividir o partido também se justifica “com o fim de ciclo de Paulo Portas”.

Como o dirigente mais popular no partido a seguir a Paulo Portas, Melo já tinha por certos os apoios de distritais como Lisboa, Porto, Braga e Viana do Castelo. Mas, como o próprio confessou aos mais próximos e sugeriu na declaração aos jornalistas, não era uma questão de ter capacidade para ganhar o congresso mas sim de atender a outras as circunstâncias. À cabeça a de ser eurodeputado, reeleito em 2014, e a de não ser deputado na Assembleia da República. Teria de renunciar ao mandato do Parlamento Europeu mas sem saber quanto tempo teria de estar na oposição. Se o actual Governo cumprir a legislatura, Melo teria de se candidatar a mais um mandato (são de dois anos) na liderança do partido e, em teoria, poderia ficar quatro anos na oposição. Por outro lado, também não era líquido que pudesse assumir o lugar de deputado no Parlamento, já que, como último nome da lista por Braga, obrigaria a que outros renunciassem ao mandato. “Não posso nem devo dispor dos mandatos de terceiros”, justificou, depois de sublinhar a importância de, como líder do partido, debater com o primeiro-ministro no Parlamento.

Nesse sentido, declarou “existirem outras pessoas em melhores condições de serem candidatos”. E apontou Assunção Cristas como nome “incontornável”, a dirigente que Paulo Portas trouxe para o partido há nove anos e a quem já atribuiu qualidades de liderança.   

Natural de Angola, Maria da Assunção Oliveira Cristas Machado da Graça entrou para a política em 2002, para adjunta da ministra da Justiça Celeste Carona (CDS), no Governo liderado por Durão Barroso, e integrou o Gabinete de Política Legislativa e Planeamento até 2005.

Foi a sua prestação televisiva contra a despenalização do aborto, num debate em 2007, que chamou a atenção de Portas que a indicou directamente para a comissão política nacional. Tornou-se vice-presidente do partido em 2009 e foi convidada a ocupar o cargo de ministra da Agricultura, Ambiente, Mar e Ordenamento do Território, no Governo PSD/CDS em 2011, ficando apenas com a Agricultura e Mar após a crise do "irrevogável". Com 41 anos, é licenciada em Direito, tem um doutoramento em Direito Privado e foi professora universitária. Mãe de quatro filhos, Assunção Cristas cumpriu a licença de maternidade do último filho já exercendo funções de ministra, uma situação inédita na política portuguesa.

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