António Costa não quer ser “auto-suficiente” no Governo

Seguro insiste na culpabilização do autarca de Lisboa pela “divisão” interna do PS, enquanto Costa prefere ignorar ataques. Mas os seus apoiantes não foram tão magnânimos.

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António Costa reuniu nesta segunda-feira mais de 1200 apoiantes num jantar no Pátio da Galé, em Lisboa Nuno Ferreira Santos

No encerramento de um jantar com cerca de 1200 apoiantes no Pátio da Galé, em Lisboa, Costa preferiu falar para fora para dizer que uma maioria de Governo do PS por si liderada nunca seria “auto-suficiente”: "Mudar de política não é simplesmente mudar de parceiro na coligação de Governo, mas ser Governo formado e dinamizado pelo PS, porque só assim se fará a mudança. Tal como fizemos em Lisboa, o PS quer ter maioria, mas o PS não quer ser auto-suficiente."

A resposta ao secretário-geral já tinha sido dada momentos antes por Carlos César e Helena Roseta. O ex-presidente do Governo Regional dos Açores criticou o retrato de Costa, do amigo das elites lisboetas, feito por Seguro. "A candidatura de António Costa apela ao Portugal de todos, desde os agricultores de Lisboa até aos doutores de Montalegre, para trabalharmos juntos como aliados e parceiros e não como adversários ou concorrentes", disse, provocando algumas gargalhadas.

Carlos César largou outra "indirecta" ao apresentar Costa como o candidato com “ideias e não com slogans”, capaz de se apresentar aos portugueses “com emoções e com racionalidade”, embora dispensando “encenações e vitimizações".

Por seu turno, Helena Roseta rejeitou a ideia da “traição”: "António Costa faz uma campanha limpa, sem insultar ninguém. O outro candidato [António José Seguro] falou em traição, mas num partido democrático, num país democrático, é legítimo e não uma traição haver um candidato alternativo. Esta disputa interna é essencial para clarificar o rumo do PS.”

Antes, António José Seguro mantivera o rumo da sua campanha, aproveitando os resultados das distritais para voltar a culpar o seu adversário da "divisão profunda" no PS: "Estes resultados permitem aos apoiantes de António Costa dizerem que obtiveram mais uma federação e aos meus apoiantes dizerem que ganharam por uma diferença de mais de 1.200 votos. Mas, aquilo que, como líder do PS, mais me preocupa é esta divisão profunda que existe no partido. E esta divisão, esta crise, é causada por um motivo: pela ambição pessoal de António Costa", afirmou o secretário-geral. Os ataques continuaram com o actual líder socialista a acusar Costa de ter "fugido aos momentos fortes" em que poderia ter apresentado a candidatura: "O ano passado houve novamente um momento de disputa no PS, eu até antecipei as eleições e disse que quem não estava de acordo comigo se apresentasse a eleições. O meu opositor actual disse 'não', disse que o melhor era fazermos um acordo verbal até às próximas eleições legislativas. Mas, o António Costa rasgou esse acordo. E eu pergunto-lhes: que confiança podem ter os portugueses num homem que não cumpre a sua palavra e faz isto?”

No rescaldo das eleições federativas nenhum dos lados se mostrava portanto disponível para assumir a derrota. As atenções estavam já concentradas na próxima ronda. “Houve um empate técnico que infelizmente significa que o partido ficou mais dividido. Teremos que trabalhar para o unir o partido a partir de 28 de Setembro”, afirmou o secretário nacional Álvaro Beleza, apoiante de Seguro. Sobre as próximas eleições, as primárias que colocarão definitivamente os dois candidatos frente-a-frente, Beleza assume-se “confiante”: “Tudo vai depender dos simpatizantes, mas a ideia era mesmo essa.”

André Figueiredo, que apoia António Costa, também considerou o resultado das distritais positivo. “Na história do PS, os secretários-gerais ganharam sempre sustentados nas quatro ou cinco federações maiores”, começa por avaliar Figueiredo. Por isso considerou importantes as vitórias de António Costa em Lisboa, Braga, Setúbal e Aveiro. Das maiores, apenas o Porto escapou a Costa. O deputado mostrou-se ainda convencido que “António Costa vai acrescentar mais [votos] nas primárias”, aos votos conquistados pelos candidatos federativos que assumiram estar com o presidente da Câmara de Lisboa.

Figueiredo destaca, por exemplo, o facto de 65% das inscrições de simpatizantes virem de Lisboa, considerando existir no distrito uma maior propensão para votar no autarca. As suas dúvidas estão, no entanto, nas inscrições de simpatizantes em papel. Será daí, garante, que poderão vir as “chapeladas, de ambas as partes”. Isto apesar de estar convencido que a maior parte dos inscritos acabará por não comparecer. “A abstenção será grande na lista dos inscritos em papel porque essas terão sido feitas a pedido”, explica. com Lusa

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