Costa ao ataque, Passos à defesa num debate demasiado controlado

Foi o frente-a-frente mais esperado da campanha: os dois candidatos a primeiro-ministro em directo nas três televisões generalistas. O nome mais referido foi o de José Sócrates.

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Enric Vives-Rubio

A primeira foi quando puxou de um gráfico sobre cobrança de impostos, fazendo Passos corar; quando atacou o plafonamento em cuja explicação Passos manifestou irritação; e quando convidou Passos a visitar José Sócrates e com ele debater. Mas se Passos exagerou nas vezes que trouxe o nome de Sócrates ao debate, Costa forçou a tecla a tentar atribuir ao PSD e a Passos Coelho a responsabilidade pela vinda da troika para Portugal.

O tempo previsto para o debate entre Passos Coelho e António Costa moderado por Judite de Sousa, João Adelino Faria e Clara de Sousa e que foi transmitido pelos três canais generalistas era 90 minutos. Mas os primeiros 45 minutos parecem terem passado mais depressa, tanto que, quando o intervalo foi anunciado, o próprio líder do PSD mostrou admiração e perguntou mesmo se “já [passara] metade”. O medo de correr riscos dificultou o arranque de ambos os candidatos, que procuravam disfarçar a tensão.

Passos fez o que lhe competia e reproduziu o que é o seu discurso de campanha. Elogiou os portugueses, que “foram extraordinários na sua vontade de superar a austeridade”. Auto- elogiou a sua governação, que conseguiu cumprir o memorando e “abrir essa janela” que dá “esperança e confiança” para que na próxima legislatura se possa “consolidar” a recuperação da situação financeira e económica do país e “incutir confiança aos agentes económicos e aos cidadãos”.

E, na resposta, o líder do PS usou a mesma receita, reproduzindo o seu discurso de campanha – ou seja, Passos “não cumpriu as promessas”, aumentou impostos, cortou salários, é o primeiro “chefe de governo a entregar o país com menos riqueza”, já que o “PIB caiu 4% em quatro anos”. E pouco depois estava a marcar o terreno, estabelecendo o cordão sanitário em relação à governação de José Sócrates, trazido para cima da mesa por Passos, que classificou as propostas socialistas de serem uma “aventura” para o país. “O programa eleitoral que apresentamos não é como há quatro anos baseado em obras públicas”, garantiu Costa.

O tacticismo e a reprodução do discurso padrão surgiram também no segundo tema: o desemprego. Costa atacou e reproduziu as suas medidas. Passos defendeu a sua governação e congratulou-se com a recuperação do desemprego e a criação de emprego. Passos ainda ensaiou uma estocada a Costa ao questioná-lo sobre se achava que ele tinha um “posicionamento perverso” de quem quer mais austeridade por tentar colar o PS ao Syriza. O líder do PSD fez questão de frisar algo que é óbvio: sempre que a economia entra em contracção, o desemprego dispara.

Pouco depois estava Costa a encostar Passos às cordas, o líder do PSD até corou. Com uma folha de tamanho A3, para que se visse bem nas televisões em todas as casas, mostrou um gráfico sobre a política fiscal de Vítor Gaspar em 2012 e 2013, insistindo na linha preta e na linha azul, ou seja, a linha que mostrava a colecta de impostos devido às medidas da troika e a que representava a colecta total de impostos pelas medidas de iniciativa do Governo. E lembrou que “as medidas [do executivo] eram o dobro do previsto pela troika”, num tempo em que Passos Coelho “achava que os portugueses eram piegas”.

Segurança Social atrapalha Passos
Mas foi no debate sobre a reforma da Segurança Social que Passos esteve menos controlado. Tentou à exaustão explicar que o corte de 600 milhões de euros na Segurança Social que está indicado no Plano de Estabilidade enviado pelo Governo para Bruxelas não significa cortes nas pensões actuais e mais de uma vez insistiu na necessidade de reformar o sistema.

Acabou por irritar-se com a insistência de Costa de que a coligação quer reduzir pensões e que o plafonamento que PSD-CDS propõem é uma privatização da Segurança Social. E acusando o PS de também fazer um plafonamento da Segurança Social ao baixar a TSU dos trabalhadores, Passos Coelho falou de intenções escondidas nas entrelinhas do programa socialista: “Sabemos que não têm lá escrito, mas está lá.” Pouco depois estava Costa a lembrar o estudo dos economistas e que o PS não prometia o que não sabia se podia cumprir, por isso tinha feito as contas, ao contrário da coligação.

Já a discussão sobre Saúde decorreu sem registo de maior, com cada um dos candidatos a defender a sua dama. Mas foi nesse contexto que Passos decidiu atacar Costa afirmando que este, quando “fala do futuro”, fala do “milagre da multiplicação das rosas” e lembrou mais uma vez que a troika entrara em Portugal por causa da governação dos socialistas no tempo de Sócrates. Costa disparou: “O engenheiro José Sócrates está em melhores condições para debater consigo. Porque é que não vai lá a casa debater com ele? Tem tantas saudades.”

Registe-se ainda que, apesar de Sócrates ter sido uma das palavras mais repetidas em todo o debate, quer um quer outro candidato se recusaram a comentar casos de Justiça. Passos afirmou mesmo que não o faria em relação à investigação sobre o seu antigo ministro Miguel Macedo. Já Costa não teve nenhuma hesitação em afirmar sobre Sócrates que agradece o “apoio de toda a gente e de todos os socialistas”, mas que “não está previsto” visitá-lo em prisão domiciliária.

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