Costa afasta bloco central e responde a Passos: “Nós temos propostas”
Líder do PS rejeita “política única”, lembrando a estratégia dos socialistas de combate à pobreza, reabilitação urbana, apoio ao emprego jovem e descida do IVA na restauração.
Em declarações aos jornalistas em Santarém, António Costa afirmou que o país “não está à espera nem precisa de um bloco central” e procurou afastar-se das posições do primeiro-ministro quando este disse que o PS não poderá fazer uma política “radicalmente diferente”. E lançou: “Hoje, as coisas ficam muito mais claras: ou nós ou eles [PSD e CDS-PP], esta é a opção”. Costa lembrou que esta foi a posição que o PS “afirmou claramente no seu congresso”, no final de Novembro.
“Nós temos propostas, nós temos medidas. E não nos conformamos com a resignação do senhor primeiro-ministro – e estamos aqui para construir e afirmar uma alternativa. Bem podem unir-se [PSD e CDS-PP], nós vos venceremos e afirmaremos a alternativa”, alfinetou o líder socialista, à entrada para o encontro Valorizar o território, descentralizar e aproximar.
Costa condenou a “posição de resignação” que vê na actual maioria em relação à pobreza e ao desemprego. E para vincar que o PS tem lançado propostas, enumerou: “Apresentámos a estratégia nacional de combate à pobreza infantil e juvenil, que é o segmento da sociedade onde a pobreza mais aumentou. Apresentámos as políticas activas de emprego, dirigidas aos jovens mais qualificados, de modo a integrá-los nas empresas do sector exportador, de forma a reforçar a produtividade e a competitividade. Apresentámos a proposta de dinamizar sectores com capacidade para absorver a mão-de-obra intensiva, como sejam a reabilitação urbana, na construção; a redução do IVA na restauração”.
Costa disse que a entrevista a Passos Coelho veio ainda mostrar “a vontade que o primeiro-ministro tem de, simplesmente, de continuar a fazer mais do mesmo. O primeiro-ministro veio clarificar finalmente que sente a necessidade de fazer uma coligação com o CDS, para tentar enfrentar o Partido Socialista”.
Na entrevista ao Expresso, Passos Coelho fala em “conto para crianças”, não para falar de novo da Grécia, mas para falar das propostas do PS, infantilizando a ideia de que é possível “superar uma quase bancarrota a distribuir dinheiro e a expandir o orçamento”. Para o primeiro-ministro, não só as soluções apresentadas pelo PS “são semelhantes às do passado”, como as pessoas que estão na fileira da frente do partido são “basicamente as mesmas que determinaram as escolhas do passado". "Se há um projecto novo, está escondido", defendeu.
Embora o primeiro-ministro não feche a porta a um bloco central com António Costa, insiste que vai lutar por uma maioria absoluta, considerando mesmo perigoso governar sem o apoio parlamentar de uma maioria na Assembleia da República, quando a situação económica e financeira do país é frágil.
“Quando saímos de um período difícil e precisamos de consolidar reformas, crescimento e confiança, não ter maioria absoluta pode ser um perigo”, vincou Passos, lembrando que, no tempo de Cavaco Silva como primeiro-ministro, sempre defendeu que esse não deve ser um fim em si mesmo, mas um garante de estabilidade.