Confirmado acordo de tréguas em 1972 entre o exército português e a Unita na guerra de Angola

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Fotos da Guerra do Ultramar que integraram exposição no Museu Militar do Porto DR

A revelação é feita em depoimento filmado e é divulgada hoje no 17.º episódio da segunda série Guerra Colonial (RTP1), da autoria de Joaquim Furtado. E além de Bethencourt Rodrigues, o acordo é relatado em pormenor pelos seus executores concretos, que se avistaram com Savimbi para o concretizar, o general Fernando Passos Ramos, o general Costa Santos, o ex-alferes miliciano Benjamim Fernando Almeida, o antigo capitão médico Rolão de Carvalho.

O acordo parte dos contactos existentes no Leste de Angola entre a Unita e os madeireiros que exploravam economicamente a zona que era a região de acampamento da Unita. Para trabalharem, os madeireiros tinham de pagar imposto e dar informações militares à Unita. A partir destes contactos, Bethencourt Rodrigues lidera a chamada Operação Madeira, sob instrução directa de Costa Gomes, então comandante-geral de Angola e em ligação com a PIDE e com o governador de Angola, Rebocho Vaz.

Os encontros com a delegação da Unita que integrava a comissão colonial decorriam no aeroporto do Luso. A delegação da Unita era composta por Clemente Jambo e Sabino Sandale. Mas em depoimento a Joaquim Furtado, também integrado no episódio de hoje, quer o próprio Sabino Sandale quer o ex-chefe do Estado-Maior da Unita, Samuel Chiwale, continuam a desmentir categoricamente a existência deste acordo.

A verdade é que é agora assumido que nesses encontros participavam o general Fernando Passos Ramos, que relata pormenorizadamente as negociações a Furtado. Mas no episódio de hoje é também possível ouvir as afirmações de Costa Gomes, em entrevista gravada pelo Centro de Documentação 25 de Abril, de que patrocionou o acordo e que este poderia mesmo ter conduzido à nomeação de Savimbi como governador do Bié. Assim como ouvir Bethencourt Resendes assumir que as cartas escritas por Savimbi às autoridades portuguesas eram dirigidas a si. E ouvi-lo explicar que se tratava de uma “guerra subversiva” e que por isso era uma “guerra suja” em que “os inimigos se podiam ligar” contra o MPLA. O acordo assegurava que não havia ataques mútuos numa zona circular que tinha o Luso a norte, Lucusse a este, Cangamba a sul e Munhango a oeste. Bem como troca de informações militares.

Este acordo já era falado e foi admitido genericamente por Savimbi a Freire Antunes. Foi tornado público logo a seguir ao 25 de Abril pela revista "Afrique Asie", que publicou algumas cartas de Savimbi.

Mas é também possível ouvir um episódio que se afigura inédito, de acordo com a opinião de Joaquim Furtado. Já depois da falência da trégua, que impludiu depois da substituição de Bethencourt Rodrigues por Abel Hipólito como comandante da Zona Leste, houve uma missão e um encontro com Savimbi na mata em que se tentou reavivar o acordo. Essa missão é relatada pelos seus protagonistas portugueses, o então ex-alferes miliciano Benjamim Fernando Almeida, o antigo capitão médico Rolão de Carvalho. Quanto ao fim do acordo, é mesmo possível ouvir o antigo ministro do Ultramar Silva Cunha assumir que ele era verdadeiro e que avisou Abel Hipólito da sua existência, mas que ele era contra e por isso boicotou a trégua atacando a Unita.

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