Movimentações levam coligação a admitir falar de presidenciais mais cedo
Avanços à esquerda e à direita forçaram PSD e CDS a admitir que podem vir a apoiar um candidato a Belém antes das legislativas.
Passos Coelho e Paulo Portas mantêm o princípio de remeter as presidenciais para mais tarde. Mas, e se Sampaio da Nóvoa, que anunciou estar na corrida a Belém na quarta-feira à noite, começar a ganhar visibilidade? E se – pior ainda para PSD e CDS –, o ex-reitor começar a fazer oposição forte ao Governo ao lado de António Costa? Os sociais-democratas e os centristas lembram que as candidaturas dependem de uma vontade individual e que os partidos não controlam esse calendário.
No acordo de coligação que foi votado na quarta-feira à noite, pelos conselhos nacionais do PSD (por unanimidade) e do CDS (com uma abstenção), os dois partidos comprometem-se a apoiar um candidato comum “preferencialmente após as legislativas”. O advérbio de modo não constava do compromisso assinado no passado sábado pelos dois líderes.
Paulo Portas, à margem de uma visita à Ovibeja, a feira agrícola de Beja, explicou o significado da palavra: "O que nós [coligação PSD/CDS-PP] dissemos [na quarta-feira] com clareza foi que, preferencialmente, ou seja, a nossa preferência é que essa matéria seja discutida depois das legislativas".
Ao que o PÚBLICO apurou, esta solução foi também uma forma de deixar um aviso a eventuais precipitações à direita. O antigo líder do PSD Marcelo Rebelo de Sousa anda em campanha no partido, apesar de ter remetido uma decisão sobre Belém para depois das legislativas. Por seu turno, o ex-autarca Rui Rio admite que já pensa nas presidenciais, embora ainda não tenha timing definido para uma decisão.
Este nome pode merecer mais consenso entre os dois partidos da coligação, já que é conhecida a antipatia que Passos Coelho tem relativamente a Marcelo Rebelo de Sousa. Rui Rio é o nome preferido por algumas figuras da cúpula do PSD, embora muitos sociais-democratas acreditem que nem o líder do partido conseguirá travar um candidato com a popularidade de Marcelo.
No CDS, Rui Rio é por muitos considerado como um dos seus, em boa parte em resultado pela forma como correu a coligação na Câmara Municipal do Porto. Às fragilidades apontadas ao ex-autarca, os centristas contrapõem Rio como uma “pessoa séria”.
CDS pode não ter cabeças de lista
A coligação PSD/CDS comprometeu-se ainda em incluir independentes nas listas de candidatos a deputados, mas na maioria há quem não acredite que venham a ter expressão significativa. Poderão, em alguns casos, ser cabeças de lista, até porque esses lugares que preferencialmente podiam ser de ministros ficarão vagos.
No PSD acredita-se que as listas não terão muitos ministros do actual Governo. Do CDS, ao que o PÚBLICO apurou, poderá não haver qualquer cabeça de lista. Nem mesmo Paulo Portas. Essa foi a ideia transmitida pelo líder do partido aos conselheiros nacionais, com uma justificação: o CDS não ganhou em nenhum distrito nas legislativas de 2011, o critério que foi adoptado para a formação das listas conjuntas em todo o território, à excepção da Madeira e dos Açores, que terão listas próprias de cada partido.
A cinco meses das eleições legislativas, a ala crítica de Paulo Portas optou por não levantar objecções à proposta de coligação pré-eleitoral apresentada pelo líder do partido.
“Como se aproxima um clima eleitoral, ninguém quis pôr em causa a solução encontrada pelos líderes dos do CDS e do PSD e, em vez de estarmos a aclarar as diferenças que existem dentro do partido – sim porque elas existem –, decidimos deixar para trás essas diferenças e colocar o interesse de Portugal à frente”, disse Luis Lagos.
Ao PÚBLICO, o conselheiro nacional do CDS mostrou-se favorável a que o partido não tenha feito exigências de cabeças de lista, porque, de facto, nas últimas eleições legislativas não ganhou ao PSD em nenhum distrito. Mas, para Luís Lagos, o presidente do partido deveria liderar um círculo eleitoral.“No partido, há a tradição de o líder do CDS ser eleito por Aveiro e penso que a própria coligação sairia reforçada política e eleitoralmente se isso acontecesse desta vez”, afirma o ex-dirigente da direcção de Ribeiro e Castro.