PS disponível para acalmar patrões
Secretário-geral do PS reuniu com confederações depois das legislativas.
Ainda as audiências não tinham terminado e já o PS tentava colocar água na fervura que ameaçava atingir o ponto de ebulição em Belém. Numa sucessão de reuniões com o Presidente da República, três das quatro organizações representativas do patronato dispararam de forma particularmente assertiva contra a possibilidade de um Governo do PS apoiado pelos partidos à sua esquerda. O principal argumento foi a definição de objectivos quanto ao salário mínimo nos acordos assinados entre os partidos, que as Confederações entenderam como uma desvalorização da concertação social.
O líder da bancada parlamentar teve de vir a público ensaiar a tranquilização dos patrões. Carlos César defendeu no Parlamento não haver margem "para que qualquer organização empresarial ou para que qualquer cidadão ache que um governo do PS não coloca nas suas prioridades de diálogo social em Portugal a Concertação Social".
E depois assegurou que os socialistas estavam disponíveis para tentar acalmar os ânimos: "O PS tem grandes responsabilidades para que esse sentido de normalidade, de tranquilidade, seja transmitido, porque corresponde a uma posição tradicional e histórica do PS na vida política e económica portuguesa."
Mas a verdade é que algo falhara na comunicação entre o PS e as confederações. Ao que o PÚBLICO apurou, o secretário-geral do PS terá reunido com os representantes daquelas organizações já depois das eleições legislativas. E na liderança socialista, perante as críticas que chegavam, admitia-se a necessidade de voltar a reunir com os patrões para dissipar todas as dúvidas e receios.
De entre as entidades ouvidas pelo Presidente, a Confederação dos Agricultores de Portugal foi a que se mostrou mais abertamente contra o Governo do PS. O seu presidente, João Machado, foi a Belém manifestar a sua frontal oposição à “frente de esquerda” que se formou no Parlamento para suportar esse Governo socialista.
João Machado, assumiu frontalmente que havia aconselhado a Cavaco Silva que “não tomasse nenhuma decisão definitiva”, dando posse a “um Governo que propiciasse eleições no ano que vem, o mais rapidamente possível”.
João Machado confirmou depois que estava a falar de um Governo de gestão até Junho, altura em que “os portugueses se devem pronunciar novamente”. “Os portugueses foram surpreendidos”, disse Machado, por uma “frente contra-natura” que se juntou numa “união negativa daqueles que perderam as eleições”.
Também a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) saiu da audiência tecendo fortes críticas à maioria parlamentar de esquerda. Mas com o argumento de que a forma como os quatro partidos (PS, Bloco, PCP e PEV) haviam acertado posições sobre o Salário Mínimo punha em causa o conceito da concertação social. “Não permitiremos que a concertação social seja esvaziada”, disse António Saraiva após mais de uma hora de reunião com Cavaco Silva.
Aquele dirigente destacou ainda a importância de “um quadro de estabilidade legislativa, estabilidade fiscal e estabilidade laboral” para depois avisar que “alguma desta estabilidade pode estar ameaçada”. Citando directamente os acordos celebrados na Assembleia da República, denunciou a “tentativa de deslocalização do que é tratado na concertação social para o Parlamento”.
António Saraiva explicou depois que estava a falar das metas definidas para o aumento do salário mínimo nacional. Desde logo, a meta defendida pela CGTP de uma subida este ano até aos 600 euros. Mas também a possibilidade daquele salário subir até aos 530 euros já em Janeiro de 2016. “É não perceber o reflexo que isso tem nas nossas empresas”, disse, depois de lembrar que um aumento “leva a que toda a massa salarial seja muito alterada”.
Também a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) e a Confederação do Turismo Português (CTP) manifestaram as suas preocupações sobre essa matéria. Francisco Calheiros, presidente da CTP, reconheceu até que os empresários achariam "mais natural" ter um Governo da coligação PSD/CDS com o PS. "Estamos aqui para trabalhar com qualquer Governo, mais apreensivos com uns casos, menos apreensivos com outros", referiu.
Ainda assim, a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) assumiu uma posição menos conflituosa. Depois de afirmar que estava disponível para “trabalhar com qualquer Governo que seja colocado em funções”, o presidente da CCP, Vieira Lopes, acabou por dar o seu aval a um Executivo socialista. “Não simpatizamos muito com governos de gestão”. Isto porque, na opinião daquele dirigente empresarial, “a economia precisa de decisões e as empresas precisam de estabilidade”.
Nesta sexta-feira, o Presidente vai ouvir as centrais sindicais.