Cavaco Silva apela a respeito por decisões do TC "aqui e lá fora"

Presidente deixou um claro recado a Durão Barroso e aconselha “alguns políticos” a estudar o significado de um segundo resgate e congratula-se com decisão da Irlanda de recusar programa cautelar.

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O Presidente considera importante que Portugal tenha registado um crescimento positivo, mas avisa que agora é necessário "consolidá-lo". Daniel Rocha

"Deixem o tribunal fazer o seu trabalho e respeitemos todos as suas decisões, aqui e lá fora", apelou Cavaco Silva, em Braga, à margem de uma visita ao mosteiro de S. Martinho de Tibães. O recado pode ser visto como destinado aos políticos portugueses, mas também a Durão Barroso, que na passada semana avisou que as decisões de inconstitucionalidade das medidas do programa de ajuda externa poderão ter consequências mais negativas em termos de crescimento económico e emprego e dificultar o regresso de Portugal ao financiamento no mercado.

Sobre a necessidade de consenso entre as várias forças políticas, Cavaco Silva apontou que as "mais variadas entidades" apelam a um entendimento porque "estão convencidos" que sem esse acordo no médio prazo a situação do país "será pior" no futuro. "Seria bom que as forças políticas se entendessem. Assistimos às mais variadas entidades a apelarem a um consenso político alargado, não é apenas o Presidente da República", apontou.

Cavaco fez mesmo um apelo. "Se não ouvem o Presidente da República, convido a darem ouvidos ao Conselho Económico e Social, onde estão patrões, sindicatos, universidades, onde estão instituições das mais variadas", disse.

Segundo resgate? Estudem o significado
O Presidente da República aconselhou também "alguns políticos" a "estudar" o significado de um segundo resgate da troika a Portugal porque tal implicaria sacrifícios "não menores" dos que os portugueses têm vindo a suportar. Cavaco Silva afirmou que é "muito importante" que Portugal tenha registado um crescimento positivo e que agora é necessário "consolidar" esse crescimento.

Questionado sobre o relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) que apontava a necessidade de mais sacrifícios em Portugal, o Presidente explicou que o que é de "valorizar" são as nove avaliações positivas da troika a Portugal e não "relatórios de técnicos" do FMI. "Alguns políticos ainda não estudaram bem o que significa um eventual segundo resgate. É bom que o façam", aconselhou Cavaco Silva porque, explicou, "não há a mínima dúvida que um segundo resgate implicaria sacrifícios não menores do que aqueles que os portugueses têm vindo a suportar".

O Presidente da República considera que o crescimento da economia portuguesa de 0,2% no terceiro trimestre é uma notícia "muito importante" mas avisa que não basta. "Até porque no segundo trimestre Portugal tinha registado um crescimento positivo, o mais elevado de toda a União Europeia. Agora cresceu 0,2%. Podíamos ambicionar mais mas foi maior do que o crescimento que se verificou na zona do Euro", disse. No entanto, alertou, agora o país tem que "consolidar esse crescimento".

Satisfação pela Irlanda
Cavaco Silva disse ainda que Portugal deve "regozijar-se" com a decisão da Irlanda em recusar um programa cautelar depois de terminado o período de ajustamento porque é a "prova de que a União Europeia pode ultrapassar as suas dificuldades".

Se Portugal se comparar com a Irlanda, o resultado é positivo para o nosso país mas, ainda assim, "a Irlanda tem mais apoio por parte dos mercados" do que Portugal, e o "grande desafio" do país é completar o programa de ajustamento com "sucesso". Nesse campo, Cavaco considera que Portugal até tem uma realidade mais favorável que a Irlanda. Porque "o défice orçamental é menor em Portugal do que na Irlanda, o valor da dívida pública é semelhante nos dois países, e o crescimento económico é semelhante nos dois países quando consideramos o PIB", apontou.

O Presidente questionou assim o porquê da diferença de tratamento entre os dois países adiantando explicações.
"Há uns autores que dizem que se deve ao facto do crescimento potencial da Irlanda ser maior do que o de Portugal; outros que se deve ao facto de o ambiente político e social na Irlanda ser menos crispado do que em Portugal; outros que é um pais anglo-saxónico; outros que é porque a Irlanda tem um forte apoio dos bancos americanos", referiu.