Cavaco: reformas nas Forças Armadas devem ter consenso alargado e horizonte dilatado

Foto
Cavaco começou as cerimónias do 10 de Junho, ontem, depondo uma coroa de flores no túmulo de Camões Enric Vives-Rubio

“Quaisquer reformas nas Forças Armadas devem basear-se num processo de responsabilidade e decisão política, envolvendo necessariamente as chefias militares, e ser objecto de um consenso alargado entre os diversos órgãos de soberania”, afirmou o chefe de Estado, Cavaco Silva, numa intervenção na cerimónia militar das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que este ano decorreu em Lisboa, em frente ao Mosteiro dos Jerónimos.

Falando perante militares de todos os ramos das Formas Armadas, das chefias militares, bem como do primeiro-ministro e personalidades de todos os quadrantes políticos, Cavaco Silva preconizou ainda que “as decisões a tomar devem ser encaradas num horizonte temporal mais alargado, de modo a evitar, a prazo, o enfraquecimento do desempenho e da capacidade operacional das Forças Armadas”.

No discurso que antecede a sua intervenção na sessão solene do 10 de Junho, o chefe de Estado não deixou também de fazer referência ao “tempo de grande dificuldade e sacrifício” que toda a sociedade portuguesa vive, notando que as Forças Armadas têm vindo a assumido “a sua quota-parte de esforço, rentabilizando e gerindo com parcimónia e rigor os recursos que lhes são disponibilizados”.

“Os homens e mulheres que servem nas Forças Armadas continuam a ser o seu recurso mais valioso”, acrescentou, lembrando os cerca de 40 militares que cumpriram missões em 18 teatros de operações, nos últimos 20 anos.

“A preservação da condição militar deve constituir uma obrigação claramente assumida pelo Estado perante a nação e que deve ser cultivada com honra e sobriedade pelos militares”, sublinhou Cavaco Silva, que é também comandante supremo das Forças Armadas.

À semelhança do que acontece todos os anos, o Presidente da República recordou também os ex-combatentes, aqueles que “tudo deram e que sacrificaram o melhor das suas vidas e da sua juventude” por Portugal, em particular os que perderam a vida ou viram afectada a sua integridade física ao serviço das Forças Armadas, frisando que o Estado não os pode esquecer.

Cavaco Silva alertou ainda para a necessidade de encontrar “renovada proximidade e um claro sentido de utilidade junto das populações”, evitando um indesejável afastamento das Forças Armadas e a eventual incompreensão do verdadeiro significado da sua existência.

Numa cerimónia em que esteve presente o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, que inicia segunda-feira uma visita de Estado a Portugal, Cavaco Silva recordou igualmente as missões em que os militares portugueses têm estado envolvidos, nomeadamente no Líbano, Kosovo ou Afeganistão.

“É desta forma, diversa mas sempre muito exigente, que as Forças Armadas cumprem hoje a sua inalienável razão de ser: defender e servir Portugal”, frisou, exortando os militares “a vencer as dificuldades com a determinação, o espírito de sacrifício e a vontade forte” que os caracteriza e “numa atitude que sirva de exemplo e motivo de orgulho a todos os portugueses”.