Cavaco diz que as vozes dos manifestantes devem ser ouvidas
"Há uma relação inversa entre o protagonismo mediático de um Presidente da República e a sua capacidade de influência nas decisões políticas”, argumenta Cavaco para defender o seu silêncio nas últimas cinco semanas.
Durante uma visita às instalações do grupo Cerealis, em Lisboa, o Presidente da República não disse se se tinha sentido um alvo dos manifestantes, afirmando que os protestos que se realizam dentro das leis da República “merecem o maior respeito”.
Cavaco alerta que é preciso “compreender” as manifestações, face ao panorama dos “números do desemprego, o encerramento de empresas e ao alargamento das situações de pobreza no país”. Classifica os 923 mil desempregados e os 40% de desemprego jovem como uma “situação verdadeiramente dramática”.
“Temos que compreender a insatisfação dos portugueses na medida em que uns estão desempregados e outros também não vêm expectativas quanto ao futuro”.
Por isso, realça, da sua parte, “as preocupações são manifestadas há muito tempo”, e fazem parte das suas intervenções públicas e de todo o diálogo que, diz o Presidente, mantém “com entidades nacionais e internacionais, quer no domínio político, quer no domínio económico”. E lembrou a sua mensagem de Ano Novo em que colocou “como primeira prioridade, ao lado da consolidação orçamental, o crescimento económico e a criação de emprego”.
Questionado sobre se pensa que o Governo levou demasiado tempo a ouvir os seus apelos, o chefe de Estado escusou-se a responder. “Um Presidente sensato e responsável, o que tem a dizer sobre aspectos concretos, di-lo ao primeiro-ministro nas mensagens que lhe pode passar nas quintas-feiras, não o deve fazer em público.”
Por isso, Cavaco diz que mede as palavras porque quer “contribuir para a resolução dos problemas” e o que “está permanentemente” nas suas preocupações é a “defesa dos superiores interesses nacionais”.
Sobre o facto de não aparecer em público há mais de um mês, Cavaco argumentou com a “agenda muito intensa” que normalmente lhe ocupa as dez horas diárias que passa no Palácio de Belém, incluindo as “muitas horas ao sábado e ao domingo”. E o que faz nesse tempo é “ajudar, contribuir, sem protagonismos mediáticos”.
Acrescentou que “um Presidente que fale muito à comunicação social normalmente não tem influência sobre as decisões que se tomam no país”. Mais: “Há uma relação inversa entre o protagonismo mediático de um Presidente da República e a sua capacidade de influência nas decisões políticas.”
E sobre isso, garante, não recebe lições. A certeza sobre esta filosofia advém-lhe da “experiência que mais ninguém tem” já que “ninguém foi primeiro-ministro dez anos e acumulou com sete anos de Presidente da República”.