António Costa fala da importância da democracia, Cavaco Silva da educação
Cerimónias de celebração da implantação da República.
No salão nobre do edifício dos Paços do Concelho, em Lisboa, ouvindo as vaias que vinham da rua, António Costa foi o primeiro a discursar para lembrar que embora o país esteja em crise, as regras da democracia não devem ser esquecidas. “Estamos num impasse e temos de o ultrapassar. Mas não podemos vencer este impasse secundarizando a democracia e as suas regras. Pelo contrário, devemos usar a democracia como referência e argumento para, em sua defesa, nos unirmos e mobilizarmos”, disse.
António Costa lamentou o “vale tudo político” somado ao “vale tudo financeiro e económico”, ou seja, que “regras fundamentais da democracia ou do Estado de Direito sejam ignoradas ou postergadas, em nome de objectivos imediatos ou sob pressão dos acontecimentos”.
Também o Presidente da República iniciou o seu discurso lembrando que em democracia não deve haver "cidadãos de primeira e de segunda" e que ninguém, seja empregado ou desempregado, homem ou mulher, activo ou pensionista, deve ser "privado da sua cidadania". "Todos são cidadãos de pleno direito e devem ser tratados como tal". Cavaco Silva sublinhou que "ninguém está acima da lei", assim como ninguém deve "eximir-se" a contribuir para o bem comum.
Para o presidente da Câmara de Lisboa, “a crise tem de ser combatida com as regras e os instrumentos da democracia” e “na convicção de que não há contradição entre democracia e desenvolvimento económico”.
O socialista considerou que os momentos evocativos, como o que hoje se celebra, devem ser oportunidades para relembrar que “o poder político pertence ao povo e é exercido nos termos da Constituição”. Cavaco afinou pelo mesmo diapasão ao declarar, poucos minutos depois, que o poder está ao "serviço do povo" e não ao serviço de interesses particulares e lembrou a importância do 25 de Abril de 1974 e a necessidade de "revitalizar a sua mensagem".
António Costa apelou ainda à "construção de uma estratégia nacional de desenvolvimento justo e sustentável" de modo a promover a competitividade, o crescimento e o emprego, assim como a redução da pobreza. Contudo, essa estratégia só pode ser "verdadeira e consistentemente nacional se recolher o apoio parlamentar e social, reforçando a nossa posição negocial perante as instituições internacionais".
Exigência e rigor no ensino
Cavaco Silva dedicou parte do seu discurso à educação, um ideal republicano. "É na escola que se concretiza o ideal republicano", apontou, referindo logo de seguida a importância da "exigência e o rigor no ensino [que] são, na sua essência, valores profundamente republicanos. O facilitismo na avaliação de alunos e docentes favorece o privilégio e acaba, de facto, por promover a desigualdade"
O Presidente da República defendeu que a escola é o "mais importante instrumento de mobilidade social" e que se o ensino perder critérios de exigência e de rigor os mais penalizados serão os mais pobres.