“Amadorismo” e “falta de dinheiro” atrapalham o PS, explicam analistas
Politólogos analisam razões e possíveis impactos da “sequência de notoriedade negativa” que abalou o PS na última semana.
É ainda difícil apurar qual será o impacto final da polémica à volta dos cartazes do PS, até porque, como frisa o também politólogo, Carlos Jalali, noutros momentos marcantes da campanha, os socialistas conseguiram marcar pontos.
Em 2008, o investigador do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, Marco Lisi, decidiu “analisar a evolução das campanhas eleitorais do PS entre 1976 e 2005”. Nas conclusões da sua investigação, Lisi alertava para um dado revelador. “É apenas em 1995 e em 2005 que se verifica uma utilização estratégica dos consultores externos, os quais assumem um papel central na gestão da campanha.” O que o levou a concluir que a “adesão dos partidos à profissionalização da política” se confirmava “apenas parcialmente”.
A polémica à volta dos cartazes do PS, agora em 2015, parece confirmar essa análise, reforçada com a avaliação de dois politólogos contactados pelo PÚBLICO.
Essa é a posição de António Costa Pinto, investigador-coordenador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e ex-presidente da Associação Portuguesa de Ciência Política. Depois de identificar a “ineficácia entre a mensagem dos profissionais [de marketing] e o controle partidário”, este analista acrescentou que o sucedido nos últimos dias “pode ter sido ocasionado por menor capacidade de recursos financeiros”. “Visto de fora, pode estar ligado àquilo que é algum amadorismo”, resume.
Uma percepção partilhada por José Adelino Maltez. Além de identificar “deficiências estruturais” ao nível da comunicação do PS, o professor catedrático do grupo de ciências jurídico-políticas no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa acrescenta que o episódio resulta da habitual “dificuldade de mobilização de elites” da parte dos socialistas.. “Pareceu tudo muito caseiro, revelou amadorismo e falta de dinheiro”, resumiu o fundador e membro da primeira direcção da Associação Portuguesa de Ciência Política.
Desde há uns meses que os socialistas têm sentido dificuldades de financiamento. Há um mês o DN referiu uma carta enviada pelo próprio secretário-geral aos representantes eleitos socialistas solicitando um "esforço suplementar": "O PS precisa da sua ajuda monetária, precisa de um contributo adicional seu para enfrentar as despesas da actividade política e para ganhar os desafios que se aproximam".
O amadorismo seria a consequência directa da falta de dinheiro, recorrendo a conhecimentos e amizades para colmatar essas dificuldades.. Um fenómeno confirmado por responsáveis partidários do PS, que reconhecem a colaboração de profissionais a título individual e de forma esporádica nas campanhas políticas.
Carlos Jalali não é tão contundente. O director da Licenciatura de Administração Pública e do Mestrado em Ciência Política da Universidade de Aveiro identificou nesta última semana “algum desalinhamento em relação ao resto” da anterior campanha socialista, frisando que se estão a avaliar “questões muito específicas de marketing político”.
Ainda assim, o PS terá ainda de lidar com o impacto destes “acidentes” de percurso na sua campanha. Carlos Jalali considera que "os socialistas ainda vão a tempo” de fazer apagar as consequências deste “ciclo mediático”.
António Costa Pinto avisa que “no concreto” é sempre “difícil medir” o impacto destes percalços. Mas reconhece que “uma sequência de notoriedade negativa é sempre prejudicial” porque faz transparecer uma “imagem de ineficácia”. Demonstra “desorientação”, resume. Já Adelino Maltez considera que a polémica à volta dos “cartazes do desemprego” é um “pontapé profundo” na estratégia de atacar o primeiro-ministro em relação à sua autenticidade. Isto porque os socialistas tentavam apresentar como “defeito” de Passos a sua propensão para a “mentira”. E a polémica dá a impressão de que “o PS usou o mesmo sistema de dissimulação” na sua estratégia de comunicação. Resultado? A percepção, por parte dos eleitores de que “são todos iguais”, resume Adelino Maltez.
“São sinais que não são ideais”, reconhece Jalali. Mas o politólogo acrescenta que ainda há tempo para afinar a corrida eleitoral socialista. O professor da Universidade de Aveiro afirmou ser ainda cedo para perceber se estas polémicas são um “sinal de padrão mais geral”. E lembra que noutros momentos – a apresentação do cenário-macro-económico, do programa eleitoral e da apresentação dos cabeças de lista - não se verificou este tipo de “desalinhamento”. Até porque, como notou Maltez, os “acidentes” se deram quando o líder não estava aos comandos: “Seis dias de férias de António Costa e deu nisto.”