Alegre pede "coragem" à esquerda e quer ir a votos com as ideias que saíram do fórum
“A reconfiguração da esquerda implica a capacidade e a vontade de construir uma perspectiva alternativa ao poder”, disse o escritor para uma Aula Magna quase completa. Manuel Alegre acrescentou que esta reconfiguração “não se fará sem o concurso de eleitores, simpatizantes e militantes do Partido Socialista”.
Durante mais de 20 minutos, o escritor e histórico do PS discursou criticando a situação do mundo e do país, como resultado de duas décadas de um sistema capitalista que não foi questionado e que retirou progressivamente poder ao Estado.
“O resultado está à vista: colapso do sistema financeiro, recessão económica, uma democracia mais pobre, consequências sociais imprevisíveis”, disse Manuel Alegre, comparando a situação actual com a que Roosevelt tinha nas mãos quando assumiu a presidência dos Estados Unidos. O deputado referiu-se ainda à eleição de Barack Obama como uma “desmedida esperança”.
Para Alegre a razão de ser da esquerda continua a ser “os explorados, os oprimidos, os deserdados da vida”, fazendo uma referência a Antero de Quental. “É por eles que estamos aqui, não pelas grandes fortunas do Banco Privado Português”, disse o socialista para uma plateia que incluía na primeira fila o líder do BE, Francisco Louçã, e Cipriano Justo, da Renovação Comunista.
Prioridades políticasMas o escritor também reservou algumas críticas para a esquerda, explicando que esta não se pode virar contra ela própria. “Há, por um lado, a esquerda do Governo, que quando o é deixa de ser praticante. E a outra, que se acantona no contra-poder”, disse.
O socialista fez diversas críticas ao Governo como tratar os serviços públicos como mercadoria, defender a perda de milhares de empregos, ter instituído regras na avaliação com o objectivo de emagrecer o número de professores, encerrar serviços públicos e entregar ao privado sectores económicos rentáveis.
O deputado apontou dez prioridades políticas como a promoção do emprego sustentável, o investimento público em sectores produtivos, uma política contra a pobreza, a defesa da escola pública, entre outros.
Depois do fim do discurso, que foi muito aplaudido, Manuel Alegre, questionado pelos jornalistas, disse que o que vier a surgir "não é de um dia para o outro". Mas assegurou que a “base programática” que saiu do fórum "é para ir a votos, não sou eu que defendo a insurreição", citou a Lusa.