Administrador que lançou Atlântida não entende por que Estaleiros de Viana pagaram sem litigar
Fernando Manuel Geraldes foi ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao processo que levou à subconcessão dos ENVC.
O antigo gestor falava numa audição na Assembleia da República à comissão parlamentar de inquérito ao processo que levou à subconcessão dos ENVC.
“Não entendo como no caso dos Açores se pagou 40 milhões de euros sem litigar”, afirmou Manuel Geraldes. “Qual era o incómodo da velocidade?”, perguntou, referindo-se ao não cumprimento, em um nó, da velocidade contratada pelo armador Atlânticoline com o construtor de Viana do Castelo. “Quanto é que o armador perdia por um atraso de cinco minutos?”, perguntou o ex-administrador.
Geraldes, que saiu da empresa em Março de 2007, antes da assinatura formal do acordo entre a Atlânticoline, a holding pública regional de transporte marítimo e os estaleiros públicos de Viana, empresa do universo da Empordef, a holding pública das indústrias de Defesa, reflectiu: “40 milhões, numa empresa daquelas, que era deficitária, bem não fez.”
Bem também não fez aos estaleiros o cancelamento dos contractos da Marinha, considerou. No entanto, o ex-gestor afirmou desconhecer essa decisão de 2012 do ministro José Pedro Aguiar-Branco. Sobre o processo de construção do primeiro patrulhão, o Viana do Castelo, sujeito a várias alterações, o antigo administrador fez uma revelação. A redacção dos contratos era de risco – “o Estado pagará aos estaleiros navais (…) se assim o entender” – e foi a que encontrou quando acedeu à administração.
As sucessivas alterações na construção do navio para a Marinha portuguesa alteraram os prazos de entrega e aumentaram os custos. Que, no entanto, seriam diluídos por se tratar do primeiro navio. “Era visto como um investimento mas, se não foram feitos, passou de custo a despesa”, disse.
Fernando Manuel Geraldes não escondeu que as relações com os responsáveis da Marinha que, em Viana do Castelo, acompanharam a construção do navio de patrulha oceânica não foram fáceis: “Não posso por 20 mil euros levar um Ferrari.” Admitiu, ainda, um desequilíbrio na administração dos ENVC face aos representantes da Empordef, o único accionista. E revelou: “Pensei várias vezes, duas ou três, em vir-me embora, várias pessoas da empresa pediram-me para não sair, foram alguns representantes dos trabalhadores.”