Sondagens são fiáveis em Portugal?
O PÚBLICO solicitou-me um artigo sobre a fiabilidade das sondagens e é com todo o gosto que respondo ao repto.
Vamos por partes: por um lado, temos sondagens “Boca de Urna”, efetuadas nos dias de eleições, que consistem numa previsão de resultados eleitorais, apresentados com intervalos. A “Boca de Urna” em Portugal, efectuada por três entidades para as três televisões generalistas, há muitos anos, é porventura a melhor da Europa, com todos os concorrentes a situarem-se nos intervalos previstos.
Questão diferente são os estudos de opinião pré-eleitorais, com as suas várias amostras e metodologias. E presumo que a questão que o PÚBLICO me coloca é esta: são fiáveis?
Duas respostas: creio que em geral (não me atrevo a opinar sobre a minha concorrência) são sérias e elaboradas com boas práticas. Não são coincidentes – ainda bem, senão a teoria da conspiração de uma “combinação prévia” já teria surgido. Mas estes estudos de opinião são isso mesmo.
Perguntam: se fossem hoje as eleições, qual seria o seu voto? São uma fotografia do momento, já desactualizada quando publicada. Escrevo este artigo no dia 18 (sexta-feira). Logo à noite a SIC, e amanhã o Expresso, dão a conhecer o último estudo da Eurosondagem. As entrevistas terminaram na quarta-feira antes do debate Passos Coelho/António Costa nas rádios. Neste momento estamos a realizar o estudo que será divulgado a 25 e 26. Os resultados andam sempre atrás da realidade.
Dos inquiridos que dizem ir votar, por exemplo, 80% declaram em quem; 20% manifestam incerteza, e respondem Ns/Nr. São os chamados indecisos. A sua grande maioria fica indecisa até ao fim e não vota. Mesmo assim, são menos de metade da abstenção expectável. O problema não são, pois, os 20% que dizem não saber onde irão votar, mas os 80% que respondem em quem, e destes 20% a 25% depois se abstêm.
Com voto obrigatório (como no Brasil), os estudos pré-eleitorais são mais fiáveis, pois a abstenção desaparece. Na Europa ou nos Estados Unidos, com taxas de abstenção superiores a 40%, um estudo pré-eleitoral nunca foi, não é nem será uma previsão de resultados.
O estado da arte ainda não chegou tão longe.
Professor de Ciência Política, administrador da Eurosondagem