A "meia verdade" e "meio mal-entendido"
Juncker e Passos dizem duas coisas aparentemente contraditórias. Estarão os dois a dizer a verdade?
O presidente da Comissão Europeia, numa entrevista ao jornal Le Soir, veio dizer algo que já sabíamos e algo que não sabíamos. O que já sabíamos, e que nos veio recordar Jean-Claude Juncker, é que “foi o medo que permitiu o acordo” com a Grécia. Evidentemente. Quando Tsipras chegou a Atenas e usou a expressão “faca ao pescoço” para explicar porque é que assinou o acordo, ficou tudo esclarecido em relação às motivações que o levaram a subscrever as condições do terceiro resgate. Quem tem uma faca no pescoço tem medo, naturalmente.
O que não sabíamos é que, segundo nos conta Juncker na mesma entrevista, Portugal, Espanha e Irlanda foram os três países que se opuseram à ideia de discutir no imediato (leia-se, em Outubro) a reestruturação da dívida grega. O que não é claro são as motivações para protelar tal discussão. Juncker deixa a entender que foram motivações eleitorais, já que Portugal e Espanha vão a votos a seguir ao Verão e a Irlanda nos primeiros meses de 2016.
Passos discorda e diz que as declarações de Juncker são apenas "meia verdade" ou um "meio mal-entendido". E qual é a metade que não é verdadeira? É a motivação. Passos diz que estes três países se limitaram a sugerir que o tema da reestruturação fosse abordado apenas a seguir à primeira avaliação “completa e bem-sucedida” do programa de resgate, “porque isso nos parece importante para criar condições de confiança entre todos”.
Duas dúvidas se levantam nesta versão dos acontecimentos: se a Grécia está a aprovar esta semana no Parlamento todas as medidas de austeridade, por que razão é necessário esperar pela primeira avaliação da troika para ganhar essa tal confiança? E mesmo admitindo que seja preciso esperar por essa primeira avaliação, que garantias há de que a Grécia continuará a cumprir na segunda, e nas avaliações seguintes? Estarão todos a contar “meias verdades”?