62% dos eleitores da coligação discordam da austeridade

Governo está mais distante do seu eleitorado nas medidas austeritárias e o papel da troika, e o eleitorado do PS mais à esquerda do que o partido na reestruturação da dívida.

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As opiniões dos portugueses sobre a austeridade variam consoante os partidos de que são mais próximos Nuno Ferreira Santos

“Os eleitores dos partidos com representação parlamentar maioritariamente discordam de que as medidas de austeridade sejam necessárias para o equilíbrio das contas públicas (…), os eleitores do PaF distinguem-se apenas pela menor percentagem daqueles que “discordam totalmente” ou “discordam”, salienta o relatório da autoria dos investigadores Marina Costa Lobo, José Santana Pereira e Edalina Sanches.

Este trabalho não pode ser confundido com uma sondagem, pois o perfil sócio-demográfico dos que responderam não reflecte a realidade nacional na divisão de género, formação e faixa etária.

Entre aqueles cujo posicionamento político corresponde à coligação do PSD/CDS, 26% afirmam a sua total discordância e outros 36% discordam da política de austeridade como vector do saneamento das contas públicas. Ou seja, os partidos da coligação estão mais distantes dos seus eleitores. Já mais à esquerda, aumentam as percentagens de recusa.

Assim, no eleitorado do PS a oposição a este preceito, somando a total discordância e a discordância, é de 88%. Entre os que afirmam votar na CDU, o nível sobe para 93%, e entre os eleitores do Bloco de Esquerda é de 94%, valor igual ao eleitorado do Livre/Tempo de Avançar.

Os eleitores do Partido Democrático Renovador (PDR), de Marinho e Pinto, que se opõem às políticas austeritárias são 81%, um valor intermédio entre o PaF e os socialistas, mas mais próximo do PS. Já o eleitorado do Partido Nacional Renovador (PNR) é o que menos discordância demonstra: 52% discordam totalmente ou discordam, no resultado de maior compreensão para o executivo, inclusive do que o do seu eleitorado.

Neste estudo, existe também um consenso maioritário sobre o efeito negativo que o memorando da troika teve na recuperação económica de Portugal. O eleitorado da coligação de Passos e Portas concorda totalmente ou concorda com as consequências perniciosas da assistência financeira: é um valor de 61%, face aos 81 em cada 100 dos eleitores socialistas, os 84% da CDU e os 90% do Bloco. Os que afirmam votar no PDR consideram nefastas as consequências da aplicação do memorando, num valor intermédio – 63% – entre o PaF e o PS. E, apenas, 37% dos eleitores do PNR admitem que as políticas da troika prejudicaram a recuperação económica do país.

Noutras questões há diferenças mais substanciais entre o eleitorado dos vários partidos. “40% dos eleitores do PaF consideram que é preciso cortar nas pensões, percentagem superior à do eleitorado do PS (19%) ou do resto da esquerda”, observam os autores.

“No domínio do corte das despesas do Estado para resolver o défice orçamental, 48% dos eleitores do PaF estão de acordo, o que os aproxima da posição do programa eleitoral do PSD e do CDS-PP”, revelam. No eleitorado socialista, 42% concordam com este postulado, que é repudiada por 56% dos que afirmam votar na CDU e por metade dos eleitores do BE. Entre os pequenos partidos sem representação parlamentar, os eleitores do PDR são os que mais concordam com os cortes, enquanto os do Livre, PCTP/MRPP ou PNR discordam desta medida.

Diferente é o posicionamento face à reestruturação da dívida pública de modo a ultrapassar a crise económica. Uma maioria dos eleitores da coligação, 65%, é contrária, enquanto mais de metade do eleitorado socialista (53%) concorda. “Divergindo, por isso, da posição de neutralidade assumida pelo PS, que só a considera num contexto europeu”, analisam os investigadores. De algum modo, nesta matéria, os votantes socialistas estão mais próximos do eleitorado das formações mais à esquerda.

“As questões mais específicas (cortes nas pensões e despesas do Estado, reestruturação da dívida pública) apresentam algumas variantes, mas tendem a aproximar sobretudo o eleitorado do Livre, CDU e do BE, por um lado, e a colocar os do PDR e PNR mais próximos do PaF”, concluem.

 

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