CGTP faz concentração-relâmpago sob 40 graus à sombra

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A concentração deste sábado Miguel Madeira
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Contudo, pelas duas e meia da tarde, o que se concentrava junto aos Jerónimos era um grupo de convidados de um casamento que acabara de se realizar. Nos jardins, algumas dezenas de manifestantes dispersavam-se pelas sombras.

Chegam autocarros cheios de pessoas que, apesar do calor, não quiseram faltar ao “empurrão” que querem dar para a queda do Governo. A agitação aumenta consideravelmente com as câmaras que entretanto se colocam e começam a entoar-se palavras de ordem.Surge um Zé Povinho, que não dispensa os incontornáveis manguitos. Porque se mascara? “Eu não estou mascarado”, revela.

Para o manifestante das Caldas da Rainha, as “respostas evasivas” do tipo “é por causa do tempo”, “obra de nossa senhora”, “perguntem aos astros” tiram toda a credibilidade à política. “Parece uma coisa de miúdos”, critica. As faixas coloridas de frases simples e os cartazes de provocações fazem o deleite não só dos fotojornalistas, como dos turistas, portugueses e estrangeiros, que se conseguiram orientar, apesar do trânsito cortado em Belém.

Poucos minutos depois das 15h, anuncia-se do palco que se está “quase a aproximar a hora do castigo”. A relutância em sair da sombra é muita. Os manifestantes do Porto são os primeiros a sair debaixo das árvores. “Só é pena estar calor”, aponta o portuense Joaquim Guedes. E critica: “Enquanto nós estivemos cá, os do Sul foram para a Costa da Caparica.” E os jovens? “Pouco jovens têm consciência de como vai ser o futuro deles”, assegura o gráfico de 62 anos.

As palavras de ordem “Está na hora, está na hora do Governo ir embora” e “Fartos de aldrabões, queremos eleições” são incitadas a partir do palco, mas duram pouco. Depressa se deixam de ouvir reivindicações das gargantas das pessoas que estão mais preocupadas em beber água, numa concentração que decorreu sem incidentes, apesar das altas temperaturas e da visível predominância de uma faixa etária sénior.

Chega o momento do discurso de Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, a ocasião que junta um grupo maior de pessoas em frente ao palco. “Com calor ou com chuva, não desistimos”, começa por garantir. O Governo, que actua “age fora da lei e em colisão com a Constituição”, habilita-se a integrar um “tesourinho deprimente”, pelo “triste espectáculo” dos últimos dias, e que é exemplo de “quem está obcecado com o poder”.

Ao Presidente da República, cuja residência oficial fica ali ao lado, pergunta: “O que espera para demitir o Governo?” Quanto às eleições, um “imperativo nacional”, PSD e CDS “fogem como diabo da cruz”. Tal como Paulo Portas, o “tal Portas que ficou de apresentar a reforma de Estado e fugiu”. Mas parece que vai voltar.

“É a política dos troca-tintas”, afirma Arménio Carlos ao PÚBLICO no final da concentração, que na sua opinião correu “muito bem”, apesar do “calor tórrido”. Se dúvidas houvesse sobre a esperança na mudança, Arménio Carlos sugere olhar em volta para os “milhares de pessoas” que estiveram em Belém, porque “acreditam que é possível” derrubar este Governo. Não eram milhares, mas esforçaram-se.

Também Jerónimo de Sousa esteve em Belém, criticando a actuação do Presidente da República. “Não entendemos a posição titubeante do Presidente da República e a sua cumplicidade neste processo que estamos a seguir”, disse aos jornalistas o secretário-geral do PCP. Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, reafirmou que as eleições são a “única saída para o momento difícil”.

Às 16h, e depois de um hino nacional mais murmurado que cantado, a população dispersa. Leontina Baptista, de 71 anos, é uma das incontáveis reformadas que queriam vir a Lisboa, porque “o primeiro-ministro não anda a fazer bem, e Paulo Portas ainda pior”. Apesar do calor, a concentração foi “muito bonita”, e valeu a pena a viagem desde Penacova. Hora e meia depois das 15h mal se nota que em Belém houve uma concentração.

Em solidariedade com o evento em Lisboa, cerca de uma centena de pessoas concentrou-se também este sábado em frente ao Palácio de São Lourenço, no Funchal, a residência oficial do representante da República. A concentração acontece para “exigir ao Presidente da República a demissão imediata do Governo, porque já não tem credibilidade política para continuar à frente dos destinos do país”, declarou o coordenador da União dos Sindicatos da Madeira (USAM), Álvaro Silva.