O regresso da barbárie
Sexta-feira à noite, um pequeno grupo de terroristas islâmicos suicidas atacou, à mesma hora, múltiplos alvos em Paris - tipicamente, os lugares onde as pessoas se encontram - estádios, restaurantes, discotecas, esplanadas : é a melhor estratégia para semear o medo numa comunidade urbana.
Os atentados, brutais, causaram, na última contagem, 128 mortos e mais de 200 feridos - o maior atentado na Europa desde os atentados da Al-Qaeda em Madrid, em 2004, na esteira do "11 de Setembro", que fez 191 mortos e mais de dois mil feridos. O choque, aparentemente, foi maior do que em Janeiro, com os atentados contre o Charlie Hebdo e, no dia seguinte, Paris parecia uma cidade morta. A resposta do Presidente François Hollande foi igualmente firme e frontal. O Presidente, que estava a assistir ao jogo de futebol no Estádio nacional que foi um dos alvos dos atentados, reuniu de imediato o Conselho de Ministros no Palácio do Eliseu, delcarou o estado de emergência e foi à discoteca Bataclan, onde ocorreu o pior massacre.
O Presidente Hollande identificou o "Estado Islâmico no Iraque e na Siria" (ISIS ou "Daesh" no seu acrónimo árabe) como a organização jihadista responsável pelos atentados, que considerou "um acto de guerra cometido por um exército terrorista". A sua posição é compreensível, perante a "barbárie absoluta" dos atentados de Paris, como o foi a posição do Presidente George W. Bush quando declarou "guerra ao terrorismo" depois dos atentados do "11 de Setembro".
A declaração de guerra do Presidente Hollande revela uma firmeza republicana indispensável para neutralizar a ameaça e impedir que se instale um sentimento de insegurança, que é péssimo conselheiro, sobretudo numa sociedade politicamente muito dividida. Com Hollande, de resto, a França tem estado na primeira linha da luta contra o terrorismo jihadista e dez mil soldados franceses estão empenhados em operações militares no Norte de Africa, no Sahel e no Médio Oriente, nomeadamente contra o "Estado Islâmico".
A coligação internacional, em que os Estados Unidos, a França e a Grã-Bretanha estão ao lado do Egipto, da Arabia Saudita e dos Estados do Golfo para travar a escalada na guerra civil na Siria e no Iraque, tem tido resultados efectivos na contenção do "Estado Islâmico", que parece estar a alterar a sua estratégia - a restauração do Califado na Síria e no Iraque. Ao contrário da Al-Qaeda, que não tinha nenhuma reivindicação territorial, o "Estado Islâmico" quer controlar o Iraque e a Siria, o que o torna mais vulnerável. Como, aparentemente, não tem conseguido progredir nesse terreno, parece ter escolhido como alternativa a estratégia de atentados contra as cidades europeias, como fez a Al-Qaeda há dez anos.
Nesse contexto, a resposta mais eficaz contra os atentados do "Estado Islâmico" é, por um lado, neutralizar as suas redes europeias e, por outro lado, aumentar a pressão militar contra as suas forças na Siria e no Iraque. O seu prestígio nas alas islâmicas mais fanáticas e radicai, patente no recrutamento de militantes em dezenas de países, incluindo a França, depende da sua capacidade para ocupar uma parte significativa do território da Síria e do Iraque, a única forma de se legitimar como um "Estado Islâmico". Os atentados de Paris confirmam não só a barbaridade dos seus métodos terroristas, mas também o fracasso da sua estratégia original.
O regresso da barbárie tornou-se uma realidade, pelo menos desde o "11 de Setembro". Mas a melhor resposta das democracias contra a violência totalitária continua a ser seguir a velha máxima de Benjamin Franklin : quem prefere a segurança à liberdade, não merece nem uma coisa nem a outra.