Cartas à Directora

A UE na sua redoma de vidro...

A 1 de Setembro de 1939 a Alemanha invadiu a Polónia, tendo-se então dado início à maior guerra de todos os tempos e, com ela, à maior vaga de refugiados de que há memória: milhões de judeus tentaram escapar do massacre germânico em busca de paz. Ironicamente, passados 76 anos, a Alemanha é o país mais procurado pelos milhares de sírios que todos os dias chegam à Europa e que tentam escapar ao clima de terror que asfixia as suas terras de origem.

Todos perguntam: o que deve a UE fazer? Fechar-se nas suas fronteiras, evitando a entrada de gente extracomunitária? Fazer valer os seus créditos de região próspera e defensora dos direitos humanos, abrindo as portas a todos aqueles que fogem da guerra? Impor limites às entradas, redistribuindo os forasteiros pelos vários países da UE e construindo centros de abrigo para os que não cabem nas quotas? A UE não apresenta uma resposta unânime e têm sido várias as opções dos membros da UE. Uns até defendem a construção de muros e barreiras, como se vivêssemos numa espécie de redoma de vidro... Certo é que todos parecem ter resposta rápida para um problema que é tudo menos simples!!!

E quanto a resolver o problema na região de origem do fenómeno migratório? Sim! Na Síria, no Sudão do Sul, na Eritreia... Tentar uma solução à chegada (que é claro que, por enquanto, deverá passar pelo acolhimento condigno aos refugiados de guerra) depois de milhares de famílias arriscarem as suas vidas atravessando o Mediterrâneo é, sobretudo, uma reacção à inacção. Tentar o mais difícil, que deveria passar por soluções de paz e democratização nos países de origem dos refugiados, parece ser, para os países mais prósperos da UE, uma medida a descartar. Mas os problemas devem combater-se na sua origem. Soluções de remedeio não passam disso mesmo...

Entretanto, o mínimo que poderemos fazer é abrir as portas aos que fogem do terror da guerra e tratá-los de forma condigna. A este nível, Portugal é um bom exemplo e tem pergaminhos a dar aos países que defendem a opção da "redoma de vidro": basta recordar a forma como os retornados de África foram recebidos há 40 anos ou a forma heróica como foi conduzido todo o processo que levou à autodeterminação de Timor-Leste...  

Pedro Peixoto, Viseu

Retirem-se os bigodes

Relativamente ao problema dos refugiados, tenho a certeza de não ter sido eu o único apanhado de surpresa pelas recentes tomadas de posição da sra. Merkel. Não há muito tempo, julgá-las-ia tão impossíveis que, agora, não paro de me interrogar sobre a possibilidade de estarmos a ser “fintados” por tanta generosidade. Será que, nos meandros da política e do poder mundiais, não andará qualquer “coisa” a mexer, sem que disso o comum dos mortais se aperceba, e que conduza a "chancelerina" a tanta caridade?

Muito recentemente, ela atacava o multiculturalismo, entendia que são ideias que não funcionam. Pensava também que o desígnio dos povos mais não é do que se cumprirem metas orçamentais. Dizia à adolescente palestiniana que a Alemanha não pode receber todos os refugiados e alguns terão que retornar. Parecia implacavelmente punitiva para com os “malandros” do Sul. Em todas as circunstâncias, contudo, sempre impante de uma superioridade rácica que nos fazia pintar-lhe bigodes à Hitler nas fotografias.

Tudo, tudo, e agora isto? Quando a esmola é grande, o pobre desconfia! Mas nem por isso deixo de expressar sincero respeito e até admiração pela disponibilidade de acolhimento demonstrada por aquele enorme país e, sobretudo, por aquele povo que (demasiadas vezes, parece-me) serve de “escudo” às decisões menos felizes dos seus dirigentes. Fico à espera de ulteriores confirmações das políticas alemãs viradas para a Humanidade…

José A. Rodrigues, V. N. Gaia

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