Cartas à Directora 5/3

“O que é o tempo?”

O que sabemos da vida é, apenas, a memória de um tempo, do tempo, que já passou.

O tempo passado, só existe nas nossas memórias nas nossas recordações, com ele, vamos imaginando a construção do futuro.

Vou caminhando o caminho,

Que me leva ao futuro.

Se não sei o que é o futuro,

Porque vou caminhando?

Se não caminhar,

Fico parado no tempo,

Num tempo que já é passado.

O passado não existe,

Se não caminhar,

Sou apenas uma recordação,

Uma memória.

Não posso parar,

Tenho de ir caminhando,

O futuro é o meu destino.

O tempo que vivemos é somente o “aqui e agora”, fragmento de um átomo, que quando damos por ele já é passado. Podemos sentir, para além do tempo, as emoções que perduram em nós, na nossa mente, alimentadas pela sensibilidade dos nossos sentimentos, alegria, tristeza, dor, felicidade, sonho, frustração, amor, desilusão…

João Francisco, Torres Novas

 

Tempo dos leitores e da cidadania

Vivemos num tempo circular e amargurado. Uma espécie de pousio político e ideológico, entre as colheitas passadas e as sementes que se poderão lançar no futuro. Como na terra seca e pobre, que precisa de descansar, também no nosso tempo há escassez de matéria orgânica, de substrato humano para dar alimento às searas das ideias e aos bosques promissores das utopias. Temos hoje a sensação que, apesar de todos os avanços científicos e tecnológicos, já houve outras épocas da História bem mais férteis de inspiração e de criação, a todos os níveis, e bem mais exaltantes para serem vividas (não se trata de balofas nostalgias de um passado que não se pode repetir; trata-se de preparar um futuro que valha a pena). Neste tempo, nuvens cinzentas de chumbo deixam a custo romper o sol de uma qualquer esperança. Ao longe, a leste, ouvem-se o ribombar dos canhões na fronteira entre dois “impérios” que se temem; mais a sul, o sangue da barbárie campeia e cabeças rolam como se o tempo histórico tivesse parado há seculos atrás; em vários púlpitos seculares ou religiosos arautos de verdades ultrapassadas voltam a clamar para a guerra contra os descrentes, sejam estes os que renegam os valores do capitalismo neoliberal ou os que professam uma crença aberta ao mundo moderno e à tolerância. Neste canto à beira-mar plantado, o tempo passa sem deixar os sulcos da revolta ou da indignação, como se o povo estivesse anestesiado por doses crescentes de fatalismo e medo. O tempo da leitura e da reflexão agoniza, na proporção inversa do divertimento acéfalo e do espetáculo alienante. Já não há leitores apenas espectadores acríticos das pequenas tricas do futebol, em painéis simultâneos nas várias estações de televisão, dos romances cor-de-rosa das ditas celebridades, fabricadas em todas as “casas dos segredos” e do fascínio das últimas tecnologias dos telemóveis, dos jogos virtuais, que divertem as crianças e os jovens e infantilizam pais e educadores. A cidadania - esse olhar para o outro em solidariedade - e os valores éticos, que deviam reger as relações sociais e económicas, estão em crise profunda e a política segue-lhe os passos contorcendo-se num rotativismo partidário estéril e perigoso. Apesar de tudo é tempo de avançar e há ainda quem resista e novos ventos benignos parecem soprar nesta Europa velha e exausta. Com todos os ingredientes para uma nova guerra entre nações e blocos económicos, com atentados bárbaros ao património artístico da Humanidade por fanatismos medievais, com desigualdades crescentes entre os que tudo têm e os que nada podem fazer para crescer economicamente, o mundo caminha para um desenlace imprevisível. Só o aumento da instrução e da cultura, o fomento da cidadania e o aprofundamento da democracia em todos os planos, pode impedir um qualquer desastre civilizacional. Na data em que o Público comemora os seus 25 anos, nunca é demais realçar o papel deste jornal diário, isento e plural, que abriu sempre as portas aos seus leitores e que foi e será agente das transformações sociais que são prementes nos dias vindouros, fomentando, com a diversidade e qualidade dos seus colaboradores, a massa crítica necessária para que tal aconteça. É tempo, pois, de mais leitores, de mais democracia económica, social e económica; é tempo de mais cidadania.

José Carlos Palha, Gaia

 

Venham mais 25

No meu tempo, as conversas tinham enredo, conteúdo, tudo era plausível, tudo era questionável.

No meu tempo, a palavra de honra era honrada, assumida conscientemente, nomeadamente por quem exerce cargos públicos.

No meu tempo, a comunicação social não dizia tudo, nem sempre, nem nunca, mas informava com rigor e de forma imparcial.

No meu tempo, os idosos, as crianças e os mais vulneráveis eram tidos em atenção, respeitados e apoiados.
No meu tempo, as saudades de que o futuro seja o que foi o tempo passado. 

José P. Costa,  Lisboa

 

Parabéns

25 anos. Só! A sério. Pensava que eram mais. 30 pelo menos. Talvez seja pela minha idade. Mas, seja como for. Gostava de vos agradecer a continuidade que deram a essa obra que é o jornal PÚBLICO. Pois. Já esperavam por esta. Pois seja. Mas é assim que me lembrei de abraçar alguém ou algo que espero todos os dias desde que vos conheço. Apesar desses 25 anos parecem muito mais novos (contradição com o início do texto; nem por isso). Mais um elogio. Dispensável. Mas, a verdade, é que se comparar o vosso trabalho, pelo menos eu, não encontro outro que me satisfaça como diário. Da V/ energia espero que me contagie para vos encontrar, pela manhã, no dia 5 de Março de 2040. Até lá. 

Gens Ramos, Porto


Tempo dos leitores

Tenho todo o tempo do mundo para ler o PÚBLICO. O vosso desafio avivou-me a memória e decidi fazer umas contas. Conclui que já comprei, li, e fiz as palavras cruzadas, em cerca de 9.081numeros. É obra. E já lá vão 25 anos; nunca tinha pensado nisto. Deixo aqui os meus parabéns ao PÚBLICO, pelo seu quarto de século, extensivos a todos os que contribuem para que ele seja a realidade que é.

Guilherme da Conceição Duarte, Lisboa

 

Parabéns

E assim se vão passando os anos. Já vamos em 25 com muitas mudanças. Até 2001 a leitura diária deste Jornal foi calma, aceitando a sua “arquitectura” e as suas secções, algumas vezes discordando. Mas o espaço da intervenção dos leitores despertou o interesse também de ir informando o que se passava na minha terra. Havia uma secção sobre os problemas locais e quando esta acabou continuei nas cartas à directora.

Foi nesta aposta de “impor” a minha colaboração, de não desistir apesar de muitas vezes não encontrarem espaço, que acabei de ser convidada para fazer parte do plano levado a cabo pela Maria do Céu Mota e integrar a publicação do livro “Os leitores também escrevem”.

Obrigada a todos que têm apadrinhado este espaço mas gostava que reclamar mesmo que o jornal Público encontre um arranjo gráfico que permita mais espaço para as cartas dos leitores e até voltar a ter o espaço Local para dar voz aos problemas das nossas Terras. Obrigada.

Maria Clotilde Moreira, Algés

 

Pedido no dia 5

Não tenho veleidades mas vou tentar... que esta singela carta saia no dia 5. Com um pedido pequeno: dêem mais espaço aos leitores, todos os dias e não não num só, o das comemorações. Com critério, sim senhor, mas não "roubando" o já acanhado "Cartas à Directora" e... não são precisos tantos epitáfios e panegíricos, mesmo que bem escritos... Termino este "telegrama" com um abraço a todos os do "meu" jornal, o PÚBLICO!

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

  
5 MAR 2015

Parabéns Público. Já passou assim tanto tempo?

No passar deste tempo de vigésimo quinto aniversário permitam-me roubar um bocadinho do vosso bolo e tirar um pouquinho do meu tempo para escrever sobre o tempo que passei, que passo e que hei-de passar convosco.

Vi-vos nascer, sim, porque quando tinha 11 anos fazia um jornal de família chamado "A casa dos Lopes" inspirado em vós, até no logotipo a preto e branco e com duplo sublinhado. Era o que eu chamava uma barra dupla musical, mas deitada.

Mais tarde comprei um Mac porque fiquei deslumbrado com a vossa redacção da Quinta do Lambert e nessa altura conheci o bem disposto jornalista Victor Bandarra, numa actividade de jornais escolares que a minha mãe tinha organizado... Sim, juntei-me à turma dela e aproveitei.... Claro!

Vi publicitada uma obra minha e uma pequena entrevista relacionada com o primeiro festival de música Electroacústica, Música Viva. A partir dai passei a comprar diariamente o vosso jornal. Deve-se contar pelos dedos de uma só mão aqueles que não comprei.

Acompanhei as mudanças de layout, as mudanças de letering, as dificuldades em comprar o jornal no Algarve, os suplementos local, a reorganização dos suplementos, a mudança mais significativa de há relativamente pouco tempo... Basicamente tudo...

Porque passo algum do meu tempo de jornal na mão; porque o leio diariamente (de trás para a frente como mandam os mestres); porque guardo o que me interessa, dobro o que pode esperar; porque se acumulam públicos por todos os espaços da nossa casa; porque há sempre tempo para partilhar o tempo de leitura do público e porque quando o tempo é menos tempo do que gostaria, o nosso sofá fica pintado pelo vosso jornal, esperando o tempo em que eu tenha tempo para o saborear.

Acompanhei a entrada no online e a capacidade de pesquisa de notícias que me permitiria agora não ter que guardar pastas com papel amarelecido pelo tempo - o tempo que vai passando pelo papel. Confesso, voltei a isso agora... Dá gozo.

Acompanhei o nascimento do P3 e agora a presença mais activa nas redes sociais.

Adoro participar nos passatempos. De qualquer género, de qualquer tempo. Desde o sudoku às tradicionais cruzadas passando pelo policiário ou pelos passatempos do Fugas. Com este suplemento ganhei um prémio e viajei à vossa conta até à Neve.

Obrigado, fiquei viciado no esqui. Nessa altura acabei por visitar "à força" a redacção do picoas plaza. Infelizmente, não conheço a vossa redacção actual em Santos. Há-de acontecer, espero, num próximo tempo.

Tenho dezenas dos vossos livros, das vossas colecções e selecções. Desde as séries Y aos recentes fac-símile, passando pelas edições do Anuário, dos livros dos Dias da Música e os do Bartoon. Sim, o Bartoon é um elemento intemporal do jornal. Que sorte tem o público, com p minúsculo e P maiúsculo... Tive o prazer de partilhar um pequeno tempo com o Luis Afonso no Museu Arqueológico da minha cidade e de poder ter um Bartoon para mim feito na hora.... Que sorte a minha!

E só mais uma: escrevo a data desta forma 5MAR2015 por vossa causa... E adoro!

Parabéns Público... Continua por muito tempo.... Prometo ter sempre tempo para te folhear....

António Laertes, músico, professor (Setúbal)

 

Os 25 anos do Público

Gostamos de festejar números “redondos”, ou que se acham com algum significado. No caso, 25 anos é um quarto de século, e num tempo em que tudo anda tão depressa, em que a Comunicação Social por vezes tem que ser excessivamente rápida para não perder espaço, o Público tem conseguido resistir, e ainda para mais, bem.
E num tempo que tudo o que sejam mais que uns meses, é para esquecer, dado que a Memória e a História são “coisas do passado arcaico”! São factos que unicamente interessam a velhos, logo, a maçadores!

O Público, apesar do ter como todos os outros periódicos, hoje, temor ao papel, continua a ser o melhor diário que temos em modo “imprimido”. Claro que tem o on-line, que se dizia, já há 5 anos, que sempre nos 5 seguintes irá totalmente acabar, com o papel. Veremos até quanto este ainda se vai aguentando.

Hoje, um jornal para ter espaço tem que ter qualidade, tem que ser diferente, tem que ter Opiniões – bem fundamentadas - e não pode unicamente dedicar-se às notícias relâmpago do dia-a-dia, dado que quando aparecerem a público, mesmo no Público, já foram divulgadas, por todas as televisões e Internet's.

O Público a nível de diário generalista tem conseguido estar presente, com qualidade. E a qualidade diária ainda é o que diferencia o Público , de outros jornais diários, que ou caem, ou vendem superficialidades. O que é capaz de ser muito pouco.

Assim está o Público de parabéns neste 5 de Março de 2015, pelos seus 25 anos, pelo percurso que tem conseguido seguir, e não tendo saído logo no dia que estava previsto, saiu um pouco depois, e cá está e bem.

Quem escreve estas linhas não é muito favorável, a muitos festejos de datas concretas, dado que se faz muito num dia, e depois esquece-se o ano inteiro, o que inclui aniversários de Pessoas ou dias “disto e daquilo”, hoje tão na moda que já não chegam os 365 dias, para a Mulher, os Namorados, o Pai, a Mãe, etc., mesmo que esquecidos durante os 364 restantes/ano. O mais usual, um dia vale o ano…e deveria ser exactamente o inverso. Sempre!
Mas, agora e a 5 de Março, estar a não esquecer o Público, é necessário.

E fica a obrigação do Público de fazer os 50 anos, com muitos de nós já sem por cá andarmos, e talvez o faça já só on-line , talvez ainda em papel, mas, espera-se que sempre com qualidade, e não banalidades, dado que isso seria acabar com o que fez o Público, nascer.

E por muito que se arranjem vontades, por vezes com algumas razoes para não gostar de algumas “coisas”  que fez, convenhamos que é mérito de Belmiro de Azevedo  a existência e a continuação do Público que se espera, assim sempre o queira manter, e deixar depois legado, para continuar seguir muitos e bons anos.

E haja mais públicos para o Público de preferência sem acabar o papel…

E parabéns a todos que o fazem, e aos seus leitores, que são a razão da  sua existência!

Augusto Küttner de Magalhães, Porto

O enigma do tempo

Se for perguntado a cem pessoas, indistintamente, o que é o Tempo obteremos um igual número de diferentes respostas. Mas, mais curioso, se a mesma pergunta for feita a cem cientistas, das mais diversas áreas do conhecimento, obteremos igual diversidade de respostas. Diga-se, aliás, que sobre esta matéria os cientistas são, em regra, bastante comedidos, recorrendo/remetendo, com frequência, aos clássicos e até aos pré-clássicos.

Em traços muito genéricos pode-se, no entanto, afirmar que o Tempo é interpretado de acordo com o saber  sob o qual é analisado, isto é, há um Tempo para as Ciências Humanas (predominantemente  a Filosofia e as Ciências Sociais) e outro Tempo para as Ciências Exactas  (predominantemente a Física e a Matemática); convergindo umas vezes, ainda que parcialmente, ora afastando-se muitas outras não deixando, porém, de se entrecruzarem com frequência;

Por razões de natureza ontológica compreende-se que assim seja (o conhecimento não é, nem pode ser, estanque) atestam-no, aliás, as teorias da Acção Mínima;  Finalista; do Eterno Infinito; da Mecânica Quântica (que rompe com o determinismo da Física Clássica); da Entropia; da Simetria na Inversão do Tempo; dos Multiversos (em contraponto com o Universo), entre muitas outras. Trata-se, enfim, de abordagens diversas, todas elas tão válidas quanto discutíveis, no sentido de se encontrar uma definição para o Tempo. Mas,

Se tal acontecer será o deslumbramento da humanidade porque, na verdade, o Tempo é um enigma. O Enigma!

Fernando Caetano, Jurista

Sugerir correcção
Comentar