Cartas à Directora
As primárias
Apesar de não acreditar em qualquer reforma do sistema político capaz de nos libertar da Associação de Malfeitores que nos tem governado nos últimos trinta anos, considero que as eleições primárias abertas são um passo importante no sentido de arejar os partidos políticos. E quanto mais abertas forem e maior for o número de eleitores, tanto melhor.
Em todo o caso, não deixa de ser revelador da perversidade mental dos nossos comentadores o argumento, contra as primárias do PS, de que isso vai permitir aos simpatizantes do PSD inscreverem-se em massa para ajudar a eleger o pior candidato. Importa-se de repetir, senhor Professor? Mas existe algum português, a não ser os que estão sentados à frente da gamela, que se dê ao trabalho de ir votar para escolher o pior candidato? Sem esquecer que isto do “melhor” e do “pior” é muito subjectivo.
Eu não sou, nem nunca fui socialista, mas, se fosse votar, escolheria o melhor. E por uma razão óbvia: é do meu interesse pessoal que todos os partidos tenham à sua frente os melhores. E é assim que pensa qualquer português que não viva da política e à conta do partido. Sendo certo que quem vive da política está publicamente referenciado. Acresce que uma ou outra excepção será irrelevante por força do número, na medida em que, quanto maior for o número de eleitores, mais se dilui o aparelho partidário e os “chicos espertos”. O problema que antevejo é precisamente o contrário: a baixa participação nas primárias de não militantes do PS.
Santana-Maia Leonardo, Abrantes
Homem, arquitecto, artista
Quando conheci o Arq. Siza Vieira, eu estudava na escola artística Soares dos Reis, no Porto; como fazia parte da associação de estudantes fui, pessoalmente, à rua da Alegria onde o Arq. tinha o seu atelier. Tive, então, oportunidade, embora atrapalhada pela pos-adolescência, de conversar com um homem afável e muito tranquilo. Propus-lhe, em nome dos estudantes da Soares dos Reis, que arranjasse um pouco do seu tempo para ir a escola falar de Arquitectura. Siza ficou admirado como, nós os estudantes da Soares, queríamos saber coisas sobre Arquitectura. Não me lembro o que lhe disse; sei que passados alguns dias tínhamos o anfiteatro da escola cheio para ouvir o Arq. Siza. Estávamos nos fins dos anos 70. Já tinha admiração pelo trabalho do Arq., mas aquele contacto deixou aberto em mim um carinho muito especial por um grande artista. Agora que todos conhecemos o grande valor da sua obra, surgem notícias que Siza Vieira está a ponderar negociar o depósito do seu arquivo para o Centro Canadiano de Arquitectura. O que terá levado aquele homem, afável e muito tranquilo, a pôr essa hipótese? Se é como diz: "Nunca ninguém se preocupou com os meus arquivos e com a minha arquitectura; ...", tem todo o direito, como dizem, de fazer o que entende com o que lhe pertence. Assim se faça.
Gens Ramos, Porto
Não queremos mais bancos
Já temos que pagar o BPN, o BPP, o... ainda mais o BES?! Isto é uma tragédia nacional e para a economia é um rombo. Estamos há três anos com a troika e o BCE e ninguém deu por nada? E o regulador – o BdP, também não viu nada? Estranho. A impunidade do poder financeiro, desaguará em inimputabilidade... Soares dos Santos (o "patriota" que paga os impostos na Holanda) veio a público defender a importância de salvar a família Espírito Santo, tendo o descaro de dizer: "Quem deu cabo do país foram as empresas públicas e o Estado" (!) A ministra das Finanças que ainda é mais fundamentalista do que Vítor Gaspar, disse que ajuda pública ao BES "só em último recurso"... O último recurso está a chegar não tarda! Quem paga? – a populaça.
Vítor Colaço Santos , S. João das Lampas