Cartas à Directora
A ilusão do Capitalismo!
Após a queda do regime comunista na antiga União Soviética, começou a hegemonia das políticas neoliberais, vendendo-nos a ilusão de que estas criariam sociedades capitalistas que atingiriam um nível de prosperidade nunca antes visto na história da humanidade. Efectivamente as sociedades crescerem durante décadas. Mas uma acentuada desregulação financeira, levada a cabo por uma fé cega no “Deus Mercado”, com a complacência dos dirigentes políticos mundiais, originou uma crise mundial de gigantescas proporções que ainda hoje estamos a pagar. Esta começou em 2008, com a falência do banco Lehman Brothers. A partir desta data, que originou uma convulsão profunda em Wall Street, a ilusão transformou-se em desilusão. Uma enorme fatia da população mundial foi gravemente afectada, perdendo os seus empregos e endividando-se com a ajuda do sistema bancário. O sistema operante, que despreza a igualdade de oportunidades e a distribuição justa da riqueza, resolveu salvar os bancos e todos os senhores da banca que com uma ganância desmedida nos colocaram neste humilhante cenário, olvidando-se dos cidadãos, atirando-os sem dó nem piedade para a miséria e a pobreza.
O último relatório da OCDE é claro na sua análise, quando nos diz que aumentou o rendimento da franja dos 1% mais ricos. Também ficamos cientes caso dúvidas houvesse, que Portugal é o terceiro país do mundo industrializado mais desigual. Contudo, não deixa de ser caricato a insistência neste tipo de políticas por quem tem responsabilidades públicas. Assim, não nos venham dizer que este governo é social-democrata! Aliás seria uma ofensa grave para quem realmente o é. Atentemos nos factos: um governo que foi para além da troika, que tem uma fé cega nos mercados, que agravou as desigualdades socias, que tem a pretensão de aniquilar o Estado, reduzindo-o ao máximo. Chamar–lhe neoliberal é redutor, por mais que lhes custe ouvir esta designação. Todavia, com as políticas seguidas está a pôr-se em causa a coesão social, o que se pode revelar nefasto até para a própria democracia.
Perante estas políticas verdadeiramente epidémicas que imperam no mundo, tendo em Portugal seguidores fervorosos, é caso para questionar se nós cidadãos seremos apenas um brinquedo nas mãos deste sistema, acarinhado pelos nossos governantes, ou se ao invés somos actores da história, capazes de alterar o seu curso. Para já, salvemos a banca! O povo pode e sabe aguentar.
Nuno Abreu, Braga
Mães
No Dia da Mãe devemos evocar todas as mulheres, que sendo mães, não o conseguem exercer plenamente.O capitalismo quer um exército disposto a trabalhar por qualquer preço, promovendo a natalidade. Recordemos as mães sírias que perderam os seus filhos no hospital, ontem, bombardeado. Recordemos todas as mulheres obrigadas a abandonar os seus filhos devido a conflitos bélicos. Evoquemos todas as crianças que perdem as suas mães. Por questões familiares afastei-me de minha mãe aos 10 anos de idade. Quero agradecer à minha professora primária, Dª Aparecida, todo o carinho dispensado nesse período. Além de me ensinar a abraçar palavras, ensinou-me a somar amizades e multiplicar afectos. A Dª Aparecida apareceu-me na altura certa. Espero que tenha encontrado o seu anjo da guarda. Nem sempre se aplica a velha máxima: mãe há só uma! Eugénio de Andrade em Poema à Mãe escreveu: "não me esqueci de nada, mãe/guardo a tua voz dentro de mim/e deixo-te as rosas/Boa noite. Eu vou com as rosas”. No meu caso, as rosas foram com a minha mãe!
Ademar Costa, Póvoa de Varzim