Cartas à Directora
Memória
"Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, …". Perante tal desafio de José Saramago em Cadernos de Lanzarote e com o aproximar do 40º aniversário do 25 Abril de 1974, aproveitemos para relembrar alguns acontecimentos que apesar da tentativa de silenciamento, não conseguem fazer esquecer. A memória, esse ficheiro de disquetes que temos arquivado no cérebro, faz-me lembrar e para começar pelo autor daquela frase, o saneamento de 30 camaradas jornalistas na empresa onde ganhavam honestamente o pão de cada dia para sustento de suas famílias, apenas e só por não pensarem politicamente como ele. Chamo outra disquete, e sai-me esse acto de traição do envio para a URSS do arquivo da PIDE onde estaria registada passagens da privacidade dos cidadãos portugueses e andam agora preocupados com a saída dos quadros de um cidadão catalão. Noutra disquete, e para que os mais novos fiquem a saber que até os fadistas eram perseguidos por certas forças políticas pois o fado era conotado com o antigo regime. Mas não todos, pois em 1976, no festival da canção da RTP, "democraticamente", puseram um camarada a interpretar as seis canções sendo portanto um vencedor antecipado e que agora anda tão preocupado com a democracia. Noutra disquete, aparece um brigadeiro de aviário que comandava o tenebroso Copcon e que deixava mandados de captura assinados, em branco, tendo sido presos tantos inocentes. Pensando que estas disquetes sofreram o ataque de algum vírus, falam em ataques à democracia esquecendo que foi graças a um punhado de militares democratas fiéis aos mais puros ideais do movimento que derrubou o antigo regime e foi por um triz que escapamos de ser um país satélite da Rússia como a Transnístria, uma terra parada no tempo, com estátuas de Lenine por todo o lado sendo o único país que ostenta a foice e o martelo nos passaportes. E conclui o Nobel da Literatura : "… sem responsabilidade talvez não mereçamos existir.". Para evitar que pensem que com estas disquetes utilizei da memória selectiva tão na moda, esclareço que é apenas por falta de espaço que tive de usar a memória seleccionada. Quem sabe se terei oportunidade para mais capítulos.
Jorge Morais, Porto
Putin mais popular ainda
Ninguém deseja arriscar uma guerra mundial por causa da Crimeia, nem a união europeia que não dispõe de meios, nem os Estados Unidos ainda no Afeganistão.
Para quê então falar tão grosso, ameaçar com sanções económicas, que demonstraram a sua ineficácia vezes sem conta em vários pontos do globo?
Oferecer gratuitamente ao presidente Putin a oportunidade de aumentar a sua popularidade aos olhos das maiorias e minorias russa espalhadas por vários países, é uma estupidez. A aproximação entre Obama e a UE foi o único resultado positivo da atitude de Putin, o que não deixa de ser extremamente bizarro. Os europeus podem estar certos que os nossos aliados americanos continuarão a defender com unhas e dentes os seus interesses económicos com o objetivo de manterem a sua hegemonia mundial. A oferta de gás liquefeito é um bom exemplo. O dever de hegemonia é um dever sagrado que qualquer presidente americano nunca esquecerá e os europeus apoiarão, mesmo que seja em seu detrimento.
Raul Fernandes, Porches