Cartas à Directora

Manifesto dos 70

A reacção a este documento por parte do governo, jornalistas-comentadores e outros críticos, só vem mostrar o quanto foi importante o aparecimento deste manifesto. Na realidade, 70 personalidades das mais diversas áreas ideológicas e profissionais mostraram consenso ao alertarem para a actual realidade económica e social do país. Não só convergiram na opinião que a política da austeridade deste governo não surtiu efeito, como disseram que há alternativas para aumentar o crescimento económico e emprego. Essa alteração passa pela restruturação da dívida pública, baseada em princípios constitucionais e respeito pelas regras de organismos europeus. Esta tem pressupostos assentes em casos já vivenciados por outros países europeus, onde se implantou essa medida e em análises económicas que provam o seu sucesso. Se prevalecer o bom senso, penso que este seria o caminho para honrar os nossos compromissos e sair da crise que nos impõe um destino cruel e doloroso.

Maria José Boaventura, Vila do Conde
 

Manifestar Alternativas

Um dos problemas do manifesto é chocar com a ideia de que esta austeridade é o único caminho possível e que terá que continuar a ser exercida por mais 20 ou 30 anos.

A preparação para o período pós-troika só nos tem preparado para que a austeridade continue pelo menos até 2035 e isto com base em números completamente desfasados da realidade.

Por este facto é que as eleições europeias são de uma importância extrema, porque a solução reside numa posição tomada a nível Europeu.

A situação na Ucrânia e o referendo na Crimeia realizado no domingo só veio agudizar ainda mais a situação calamitosa que a Europa atravessa com esta sua inacção.

Não dá para continuar com esta austeridade e empobrecimento ad aeternum sob pena de quando tivermos pago a dívida, pouco ou nada restará.

André Peixoto, Lisboa

 

A linha de água

Às vezes uma pessoa lê e não acredita. Diz o Editorial do Público de sábado: "(...) A co-adopção (...) é apenas garantir que uma criança criada por um casal gay não fica órfã, não é forçada a ir viver com os avós (...)". Importa-se de repetir?

A geração de Maio de 68, que agora nos governa, em nome de um ensino centrado no aluno destruiu a Escola, em nome da ressocialização do arguido destruiu a Justiça e em nome do superior interesse das crianças destruiu a Família. De boas intenções está  inferno cheio e foi em nome das boas intenções que foram demolidas paredes mestras das nossas instituições com vista a um maior arejamento. O problema é que as instituições, em vez de ficarem mais arejadas, acabaram por ruir com estrondo sobre a cabeça dos alunos, professores, arguidos, ofendidos, filhos, pais e avós.

Em todo o caso, era prudente que os engenheiros sociais não insistissem em continuar a construir em cima de linhas de água porque a natureza humana, quando contrariada, irrompe com a mesma violência que as forças da natureza.

Eu fiquei órfão com 9 anos e, se a minha mãe voltasse a casar, eu só pedia uma coisa: ficar com os meus avós. Se os meus netos ficarem órfãos, caberá também aos avós responder em primeira linha pela sua educação. Como é lógico. Os senhores deputados podem mudar as leis que quiserem, agora podem ter a certeza: um neto meu, se ficar órfão, nem vai deixar de ser meu neto, nem vai viver, de certeza absoluta, com um indivíduo que não lhe é nada.

Santana-Maia Leonardo, Ponte-de-Sor

 

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