Cartas à Directora

Março do século XXI

Neste 8 de Março do século XXI, infelizmente, ainda não se pode esquecer “Luísa sobe a calçada” de António Gedeão … “Saiu de casa de madrugada; regressa a casa é já noite fechada”… E de continuar assinalar o 8 de Março de 1857 e a morte de mais de 100 mulheres que lutaram por 10 horas de trabalho em vez das 16 horas. Este dia é desde 1910, por proposta de Clara Zetkin na Conferência realizada em Copenhaga, como o dia Internacional da Mulher Trabalhadora. Mas ao contrário de ainda alguns ligarem este dia apenas à "importância de ser mulher" ele deve ser recordado como conquista de melhores horários de trabalho para todos nós. Melhores horários… sim pois numa sociedade civilizada e responsável o trabalho deve ser respeitado mas devemos ter tempo para ver o Sol. 

E neste nosso País desregulado, querem aumentar o horário de 35 horas para 40 na Função Pública. Em vez de organizarem os serviços, nesta fúria de corta-corta para responderem a uns troikanos, os nosso tenrinhos que chegaram ao Governo – muitos deles sem saberem o que é trabalhar – pensam que resolvem tudo com horários mais longos. Um ser humano cansado, com problemas de mobilidade porque também na área dos transportes existem muitas deficiências, com o coração apertado pelos filhos e familiares que precisam de mais assistência, não poderá produzir mais só porque o horário é mais comprido.

Neste Março devemos apoiar todos aqueles que muito conscientemente asseguram trabalho e lutam pelo respeito do ser humano como força produtiva de um mundo melhor

Maria Clotilde Moreira, Algés

 

Mulheres de todos os dias

No Dia Internacional da Mulher devemos evocar  todas as mulheres que caíram na defesa da democracia e da liberdade. Devemos homenagear todas as mulheres vítimas de violência doméstica e todas aquelas que morreram na defesa de um amor  impossível. Recordemos as mulheres escritoras que  pelas  suas diferenças de forma e estilo mantiveram alto a chama da coragem e lutaram contra preconceitos e  a intolerância. A Jane Austen, Irene Lisboa, Gabriela Mistral, Virginia Woolf, Katherine Mansfield, Cecília Meireles e Luísa Neto Jorge. Obrigado, pela ternura e bondade das palavras lançadas ao vento. A todas as mulheres que em sociedades fechadas as obrigam a tapar o corpo resistindo com  a alma. A todas as meninas obrigadas a casamentos de conveniência levantemos alto a bandeira branca da inocência. Sophia de Mello Beyner em Catarina Eufémia escreveu: "O primeiro tema da reflexão grega é a justiça/E eu penso nesse instante em que ficaste exposta/Estavas grávida porém não recuaste/Porque a tua lição é esta: fazer frente”.

Ademar Costa, Povoa de Varzim

 

Dia Internacional da Mulher

Nasce menina, germina, torna-se feminina, adolescente.

Sente a primeira dor, o amor logo de seguida, vida em que se enleia, qual teia que a rodeia

Dei-a como que ateia, ou cristã, talismã que reverdece cada manhã 

Amanhã um novo dia comum acontece

Como uma máquina, maquina, tece, o que cozinhar, lavar, não para de chorar, de parir, para ir na senda da triste rotina, sina que não ensina à sua prole 

Sol que desponta, aponta para o futuro que augura

Jura fim à submissão, missão dita impossível 

Impassível às vozes soezes, mais das vezes inscientes, sente que é a sua hora

Embora ciente de que não é fácil o porvir, porfia e confia, é dia de crer, de saber que é capaz, e faz com sageza, ousa Corajosa, convence e vence a desdita, deita mão à sua bandeira de maneira audaz, e em paz assume na sociedade o lugar que de jus lhe pertence com tanta verdade, e canta vitória, glória perene

Solene e anódina homenagem à tanta vez anónima, mas única, Tu, que nos dás o ser Mulher

José P. Costa, Lisboa

 
 

   

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