Cartas à Directora
Já não nos atiram areia para os olhos!
Como forma de legitimar a dominação exercida sobre a população, pelos nossos governantes, fiéis discípulos das políticas neoliberais, na era do capitalismo selvagem, o discurso imperante desde o dealbar da crise tem sido o de afirmar, de forma propagandística e como forma de “lavar as mãos”, que se “tem vivido acima das nossas possibilidades” – camuflando assim a verdadeira responsabilidade da agenda neoliberal no deflagrar da crise económica e financeira.
Na realidade, o que causa mais estupefacção é que estas políticas são-nos impostas sem nenhum tipo de aceitação social, o que, diga-se de passagem, numa sociedade democrática, é deveras preocupante. Acresce que este tipo de corrente ideológica, que é profundamente desigual na distribuição da riqueza, preocupa-se somente com as exportações das grandes empresas, precipitando para a insolvência as pequenas e médias empresas e colocando no desemprego os seus trabalhadores. Com a agravante de que esta ideologia tem como principal objectivo a obtenção do lucro, "custe o que custar", não tendo um pingo de ética, nem sensibilidade social, na aplicação das suas medidas. O que realmente importa é aproveitar todas as oportunidades para privatizar o erário público, abrindo espaço para a desregulação financeira e desregulando por completo as relações laborais.
Como se não bastasse, temos um primeiro-ministro que, disfarçado de D. Sebastião, vestiu a capa do empreendedorismo, sendo um verdadeiro campeão nesse domínio. Esqueçamos, assim, a história, a filosofia e as ciências sociais em geral. O que importa é seguir os ditames do “chefe” e criar por “geração espontânea” um empreendedor em cada um de nós.
Depois desta ideia genial do nosso “bom aluno”, julgo que a Fundação para a Ciência e Tecnologia lhe deve uma bolsa de estudo pelo empobrecimento generalizado. Quem sabe na Goldman Sachs, no FMI ou lá para Bruxelas. O “Lobo de Massamá” tem potencial para isso e muito mais!
Nuno Abreu, Braga
O comboio e a bicicleta
Costumo pedalar pelo Alto Minho e lembrei-me de diversificar o meu ponto de partida ou de chegada utilizando o comboio. Fui informar-me e descobri que o “material” actualmente utilizado na Linha do Minho não aceita bicicletas! Então a promoção da vida saudável, a utilização da bicicleta associada ao comboio tanto para o lazer como para as deslocações quotidianas é inviável por aqui? O site da CP até diz com grande destaque: “O transporte de bicicletas nos comboios urbanos e regionais é gratuito. É ecológico, é saudável e não custa.” Isto é antes de precisar mais abaixo, em letra pequenina: “Devido às características do material circulante que efectua o serviço regional nas linhas do Minho e Douro, não é autorizado o transporte de bicicletas.” Posso entender que o material não ajude, mas não seria possível algum tipo de adaptação?
Entretanto, em Abril 2013 a Assembleia da República recomendou ao Governo “a criação de condições para o transporte de bicicletas na CP – Comboios de Portugal” e “a continuação dos esforços de alargamento do transporte de bicicletas aos comboios Intercidades e, se tecnicamente possível, também ao Alfa Pendular”. Acho engraçada esta coisa de a AR fazer recomendações e, como bons urbanos que são e concentrados nas grandes urbes, pensarem especialmente no Alfa…
Muitas linhas de comboio foram abandonadas por inviabilidade económica e agora em vez de carris há uma pista para bicicletas. Hoje vejo passar as composições entre Viana e Caminha pouco mais do que vazias e, pronto, é assim mesmo. Talvez um dia os ciclistas venham a circular pela linha desactivada… e se isso acontecer será por mera fatalidade do destino.
Carlos J .F. Sampaio, Esposende