Cartas à directora

Os génios e os outros  

Ninguém conhece o sr. Carlos Nolasco ( Público 13/01), que escreveu sobre a morte de Eusébio. Mas nos confins da Ásia, da África, da América e da Oceania milhões sabem quem foi Eusébio, um génio do futebol, irmão de Pélé, inspirador de Ronaldo. Que autoridade moral tem o sr. Nolasco para confundir Eusébio da Silva Ferreira com o colonialismo, o Estado Novo, os três FFF (que afinal continuam tão vivos como antes). Nada mais falso: Eusébio ganhou o respeito de todos porque, além de genial, era um homem simples e bom, a quem a fama nunca subiu à cabeça. Não é verdade que fosse um homem "comum", moçambicano e português como todos os outros. Ele foi, por opção, um grande português, de origem moçambicana. O seu companheiro Coluna, seguidor de outras opções, respeitáveis, disse-o claramente: ficou em Portugal porque se sentia bem. Não é qualquer sociólogo de Coimbra que nos vem convencer de que no desporto não há génios - neste caso identificado com o país e com todos nós. Se o senhor Nolasco não entende isto, é porque lhe escasseia a sensibilidade. Mas fez uma grande descoberta: que os génios também morrem. Muito obrigado..

Eugénio Mota, Miraflores

Ouvir Portugal

"Ouvir Portugal", sem eu querer ao escolher o assunto desta carta, tem dois sentidos: ouvir Portugal é, por exemplo, ler o que aqui neste espaço Público "gritam" tantos portugueses, como "choram", como desesperam, com o que se indignam... Será que os políticos lêem estas cartas dos leitores que se "dão ao trabalho" de pensar o país que amam? Não é mais esclarecedor para um político ler e ouvir o povo do que ler resultados eleitorais, sendo que a abstenção é alarmante? Estas cartas explicam aos políticos o voto em branco, a abstenção ou o voto nulo...

Mas "ouvir Portugal" também é outra coisa, e foi esse o motivo para este email: há portugueses que, embora não escrevam, chamam-nos à atenção para a beleza natural e mesmo a urbana das paisagens portuguesas. Admiro quem ousa fazer diferente, quem ousa seguir o seu caminho, ouvir a sua voz interior que não pode ser abafada, seguindo paralelamente ao desânimo, ao desemprego, à crise, à desesperança. Há homens e mulheres que amam o seu país gravando os sons «que o país faz. Das matas às zonas ribeirinhas, das aldeias às cidades, do Barreiro a São Pedro do Sul. Há homens e mulheres que nos dão o clic: "já ouviu, por acaso, as formigas, a água do rio, os moinhos, as histórias de vida dos seus vizinhos mais velhos, o sino da igreja da sua localidade, etc."

Não prestamos atenção ... andamos e corremos de ouvidos e olhos vendados...

Que desperdício de oportunidades e de beleza! Como disse Luís Antero ao jornalista do Público, "Comecei a ouvir a área onde habito . Nunca o tinha feito antes. É semelhante à poesia. (...) a poesia do local (...) sons que existem ali e não existem noutro sítio qualquer"! (Ípsilon, 10 jan. 2014)

Céu Mota, Sta Maria da Feira
 

Sugerir correcção
Comentar