A ciência contra o caos urbano
Há um retrato matemático da desordem das megalópoles. E tem lições preciosas para o futuro
Um estudo das Universidades do Minho e de Lisboa, que noticiamos nesta edição, mostra-nos como a ciência consegue dar um retrato preciso e orgânico do caos urbano e talvez dar-nos ferramentas para o prevenir. Recorrendo a critérios matemáticos, o estudo analisou a evolução da zona da Grande Lisboa a norte do Tejo entre 1960 e 2004. Um horizonte temporal no qual encaixa o início do grande êxodo do campo para a cidade, o tempo dos bairros da lata e dos bairros clandestinos, em que os subúrbios semi-rurais da capital começaram a transformar-se nos espaços urbanos desordenados e asfixiantes que são hoje. O estudo da equipa liderada por Jorge Pacheco mostra como era possível antever as zonas suburbanas que iriam iriam crescer mais. E também nos permite prever que esse processo está longe de ter acabado. A observação relativa a 2004 identificava com clareza como a construção de uma auto-estrada até à Ericeira iria abrir espaço a mais construção. E mostra como a zona noroeste da Grande Lisboa, a chamada zona saloia, está neste momento sob ameaça do caos urbano. Ainda vamos a tempo de evitar o pior e de impedir que a sede de construir de uma economia e de um universo autárquico há muito dependente do betão (e da corrupção ligada ao betão) cause mais estragos.
Em si mesmo, o estudo é como uma aula da história urbana. Trata-se de um exemplo de excelência da ciência feita em Portugal que poderá vir a ser aplicado noutras cidades do planeta. O modelo desta equipa multidisciplinar mostra que esta forma caótica, que os autores definem como "metaestática", é aplicável a cidades como Londres ou Tóquio. O mundo desenvolvido não escapa a esta síndrome da desordem urbana. Valha-nos isso, ao menos. Sejamos também nós, e não apenas outros, a tirar partido da lição sobre o caos que este estudo representa.
O "novo fôlego" do terror irlandês
Cedo ou tarde teriam de reaparecer: os que na Irlanda do Norte nunca se conformaram com o actual cenário de paz e de entendimento político (aquele que foi possível estabelecer com o Sinn Féin e que os radicais atribuem a "falhas na liderança do nacionalismo irlandês") vieram agora anunciar uma nova era de trevas. Com uma conferência de imprensa caricata, algures na fronteira irlandesa, sem direito a gravações e com um comunicado que foi queimado depois de mostrado aos jornalistas para que estes tirassem notas. Não é por acaso que este "novo fôlego" do espírito do terror ocorre no início dos Jogos Olímpicos de Londres. O anúncio de uma "liderança única" para a nova estratégia terrorista antibritânica e, na prática, também anti-irlandesa, deve ser recebido como merece: com desprezo. Se a Irlanda do Norte aprendeu algo, nestes anos de sangue, foi a não servir de cobaia a novos messias sanguinários. E a usar a democracia como única arma digna.