O Diário de Um Cientista

É muito mais do que uma colecção de narrativas sobre a diversidade da vida. É uma celebração da ciência como um dos mais nobres e mais extraordinários empreendimentos humanos em busca do conhecimento.

Ouça este artigo
00:00
05:04

O Diário de Um Cientista é um projecto único em Portugal. Pela primeira vez, um jornal diário, o PÚBLICO, oferece aos seus leitores durante cerca de um mês as histórias que a motivação, a curiosidade, a determinação e o fascínio de um grupo de cerca de 30 cientistas do Cibio, o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, se propôs partilhar através da constituição de uma parceria conjunta.

Mas para se perceber como foi possível chegar até este momento é preciso saber, em primeiro lugar, que o Cibio é um centro de investigação fundado há cerca de 20 anos no domínio das ciências biológicas, acolhido pelas universidades do Porto, de Lisboa e dos Açores, com intensa actividade em África, na Ásia e na América do Sul, e que desenvolve investigação científica na área da ecologia e da evolução, com especial ênfase na origem, manutenção e conservação da biodiversidade.

No Cibio, a investigação em biodiversidade é entendida de forma transversal, isto é, vai desde a biologia molecular mais fundamental, através do estudo dos genes e dos genomas, até aos ecossistemas e às paisagens, às cidades mais verdes e mais biodiversas, à ecologia urbana e ao ordenamento do território. Vamos assim desde o entendimento dos habitats e dos recursos naturais, da sua apropriação através da criação e gestão das paisagens até à construção dos lugares e dos povoamentos, e por isso à arquitectura.

É por esta razão que as novas infra-estruturas do Cibio resultam da reabilitação de um complexo de edifícios de uma quinta do século XIX, em Vairão, e que as futuras estações biológicas internacionais de Mértola e da Branda de São Bento do Cando correspondem, respectivamente, à recuperação de um antigo silo de cereais na paisagem alentejana, e à transformação de uma aldeia de altitude no Parque Nacional da Peneda-Gerês para onde os pastores levavam o gado durante o Verão. Consegue-se assim uma virtuosa ligação entre a investigação sobre o património natural e a conservação do património cultural, algo que todas as pessoas percebem muito mais facilmente. Tudo isto está também a acontecer porque o Cibio ganhou, em 2019, um grande projecto europeu designado por Biopolis, e que é ele próprio uma parceria com a Porto Business School (PBS) e a Universidade de Montpellier, em França.

O Biopolis é também uma associação que junta múltiplas entidades provenientes dos quatro sectores em que se organizam as nossas sociedades: o Estado, a academia, as empresas e a sociedade civil. Todos juntos procuram não só desenvolver ciência de qualidade global, como transferir o conhecimento gerado para o Estado, assegurando uma melhor gestão do nosso património natural, para as empresas, assegurando a promoção da inovação, e para a sociedade civil, assegurando a apropriação desse conhecimento por parte de todos os cidadãos.

O Biopolis é ainda um processo transformador do Cibio: hoje a investigação que aí se faz é a celebração da ciência movida pela curiosidade ou, nas palavras belíssimas que um dia ouvi a Richard Zimler, é sobretudo uma fábrica de sonhos.

Os cientistas que diariamente desenvolvem a sua investigação no Cibio procuram também comunicá-la à sociedade em geral, e têm à sua disposição várias possibilidades de o fazer. A mais notável que existe no país é a rede de centros de Ciência Viva, que disponibiliza e promove uma enorme multiplicidade de acções de disseminação da ciência e tem a capacidade de chegar a públicos muito diversificados. No Porto, por exemplo, a Galeria da Biodiversidade, parte integrante do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto e também um centro de Ciência Viva, oferece aos seus visitantes uma viagem sobre a vida em que os seus conceitos fundamentais são explicados através de uma abordagem artística em que o encantamento e o usufruto do belo são uma parte muito importante na apreensão desses conceitos.

Mas há pouco mais de dois anos o Biopolis, o jornal PÚBLICO e um conjunto de outros parceiros decidiram juntar esforços para dar origem ao projecto Azul, inteiramente dedicado à informação sobre ambiente, alterações climáticas, biodiversidade e a sustentabilidade do nosso planeta. E foi precisamente neste contexto que o Biopolis e este jornal decidiram aprofundar ainda mais a parceria estabelecida e conceberam o Diário de Um Cientista, que através de um conjunto de histórias construídas por cientistas e jornalistas, de uma infografia dedicada e ainda de uma série de podcasts especialmente elaborados para o projecto, chegará a todos os leitores durante o mês de Agosto. Entre muitas outras histórias poderemos assim acompanhar os cientistas do Cibio na sua investigação sobre cavalos-marinhos, lobos ou garranos, nas suas deambulações para compreender a biodiversidade das regiões desérticas deste planeta, para instalar sensores no arquipélago dos Bijagós ou em busca de uma língua perdida em regiões remotas de Angola, ou ainda procurando ajudar na conservação de espécies ameaçadas como os anfíbios em geral ou o raríssimo gato-bravo.

O Diário de Um Cientista traz pela primeira vez para as páginas de um jornal de referência a expressão da curiosidade científica pela exuberância da vida manifestada através de um conjunto muito diversificado de abordagens distintas. Cada história é também a história de uma pessoa, de um cientista, de uma paixão, de muitos anos de dedicação em busca da compreensão de um fenómeno ou de um conjunto de fenómenos. E por isso o Diário de Um Cientista é muito mais do que uma colecção de narrativas sobre a diversidade da vida. É sobretudo uma celebração da ciência como um dos mais nobres e mais extraordinários empreendimentos humanos em busca do conhecimento. E por tudo isto este mês de Agosto será um mês único tanto para a imprensa como para a ciência em Portugal.

Boas leituras e bom Verão!

Sugerir correcção
Ler 1 comentários