Tensão entre Austrália e China: caça chinês disparou foguetes na direcção de helicóptero australiano

Primeiro-ministro australiano denuncia “comportamento inaceitável” da Força Aérea chinesa no mar Amarelo. Pequim diz que respondeu a manobra “ameaçadora” no seu espaço aéreo e marítimo.

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Caças J-10 da Força Aérea do Exército da Libertação do Povo Chinês PETAR KUJUNDZIC
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Os esforços levados a cabo nos últimos meses pelos governos da Austrália e da República Popular para desanuviar a situação de tensão entre os dois países, agravada durante a pandemia de covid-19, não parecem estar a ter o efeito desejado, após o segundo incidente em seis meses envolvendo veículos militares chineses e australianos.

O Governo do país da Oceânia revelou que um caça chinês disparou foguetes luminosos de sinalização que passaram a poucos metros de um helicóptero da Marinha australiana, no sábado, e acusou a Força Aérea chinesa de “comportamento inaceitável” e “perigoso”.

Em resposta, Pequim disse que o avião de guerra chinês reagiu a uma manobra “ameaçadora” e “arriscada” do helicóptero australiano perto do espaço aéreo e marítimo da China e exigiu à Austrália que “pare imediatamente com as provocações” para evitar “mal-entendidos e erros de cálculo”.

Segundo Richard Marles, ministro da Defesa da Austrália, o helicóptero MH60R Seahawk, lançado a partir do navio HMAS Hobart, realizava manobras de rotina no mar Amarelo, perto do território da Coreia do Sul, no âmbito de uma missão das Nações Unidas relacionada com a imposição de sanções económicas à Coreia do Norte, por causa do seu programa nuclear.

Um caça chinês J-10 interceptou o helicóptero, lançando foguetes de sinalização. Uns passaram a cerca de 300 metros da frente do Seahawk e outros a apenas 60 metros acima do helicóptero. “Tratou-se de uma manobra perigosa, que pôs em risco a aeronave e a sua tripulação”, denunciou o Ministério da Defesa na segunda-feira, através de um comunicado.

“[A Força Aérea chinesa] tomou as medidas necessárias no local para avisar e alertar a parte australiana. A forma como a situação foi gerida foi consistente com a nossa legislação e regulamentos [e foi] profissional e segura”, garantiu esta terça-feira Lin Jian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, citado pela Reuters, acrescentando que o helicóptero “voou deliberadamente a curta distância do espaço aéreo chinês, num acto de provocação”.

“Tornámos esta questão pública para podermos dizer, de forma muito clara e inequívoca, que este comportamento é inaceitável”, explicou Anthony Albanese, primeiro-ministro da Austrália, em declarações ao Canal 9, dizendo que foram feitas denúncias do incidente “em todos os níveis” do Governo chinês, mas admitindo que não falou pessoalmente com o Presidente Xi Jinping (de visita à Europa) sobre o assunto, como exigia a oposição conservadora do seu país.

Em Novembro do ano passado, a Austrália já tinha acusado a China de ter ferido mergulhadores da Marinha australiana em águas japonesas quando um navio de guerra chinês utilizou um sonar subaquático – Pequim rejeitou estas acusações.

O incidente de sábado acontece cerca de dois meses depois de a ministra dos Negócios Estrangeiros australiana, Penny Wong, ter recebido o seu homólogo chinês, Wang Yi, em Camberra, para o primeiro encontro com aquele nível político desde 2017; e a cerca de um mês de o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, também visitar a Austrália.

As relações entre Austrália e China passaram por um dos piores momentos das últimas décadas em 2020, quando o Governo australiano exigiu uma investigação independente às origens da covid-19 em Wuhan, na China, à qual Pequim respondeu impondo barreiras ao comércio com a Austrália.

A condenação à morte de um escritor australiano na China ou o desenvolvimento da parceria militar e de segurança AUKUS (Austrália, Reino Unido e Estados Unidos), que pretende fornecer submarinos nucleares à Marinha australiana a partir de 2030, e que é vista em Pequim como uma iniciativa do Ocidente para conter a China na região alargada do Indo-Pacífico, são outros pontos de discórdia entre os dois países.

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