Papa: “Principais vítimas da ganância humana são os fracos e os vulneráveis”

Na missa de Natal, o Papa Francisco disse que a fome de poder no mundo é tal que alguns querem “consumir até os seus vizinhos”.

Foto
O Papa Francisco beija uma figura do menino Jesus este sábado Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE

O Papa Francisco disse este sábado, na missa de Natal, numa aparente referência à guerra na Ucrânia e outros conflitos, que o nível de ganância e fome de poder no mundo é tal que alguns queriam "consumir até os seus vizinhos".

Francisco, celebrando o 10.º Natal do seu pontificado, presidiu a uma missa solene de Natal na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Foi a primeira com uma multidão de cerca de 7000 pessoas, após vários anos de restrições por causa da covid-19. Cerca de 4000 outras pessoas participaram no exterior na Praça de São Pedro, numa noite relativamente quente.

Como tem sido o caso nos últimos meses, uma doença no joelho impediu Francisco de ficar de pé durante longos períodos. Por isso, um cardeal foi o celebrante principal no altar.

Sentado ao lado do altar durante a maior parte da missa, Francisco teceu a sua homilia em torno do tema da ganância e do consumo a vários níveis, pedindo às pessoas que olhassem para além do consumismo que passou a marcar a quadra natalícia, redescobrissem o seu significado, e recordassem aqueles que sofrem de guerra e pobreza.

"Homens e mulheres no nosso mundo, na sua fome de riqueza e poder, consomem até os seus vizinhos, os seus irmãos e irmãs", disse. "Quantas guerras já vimos! E em quantos lugares, ainda hoje, a dignidade humana e a liberdade são tratadas com desprezo!"

Desde que a Rússia invadiu o seu vizinho em Fevereiro, Francisco pronunciou-se contra a guerra em quase todos os eventos públicos, pelo menos duas vezes por semana, denunciando aquilo a que chamou atrocidades e agressões não provocadas. Este sábado não mencionou especificamente a Ucrânia.

"Como sempre, as principais vítimas desta ganância humana são os fracos e os vulneráveis", disse, denunciando "um mundo esfomeado por dinheiro, poder e prazer".

"Penso sobretudo nas crianças devoradas pela guerra, pela pobreza e pela injustiça", mencionando também "crianças por nascer, pobres e esquecidas".

Traçando um paralelo entre o menino Jesus nascido numa manjedoura e a pobreza de hoje, disse: "Na manjedoura da rejeição e do desconforto, Deus faz-se presente. Ele surge aí porque aí vemos o problema da nossa humanidade: a indiferença produzida pela pressa gananciosa de possuir e consumir".

No início deste mês, o Papa exortou as pessoas a gastarem menos nas celebrações e presentes de Natal e a enviarem a diferença aos ucranianos para os ajudar a passar o Inverno.

O Papa assinalou o seu 86º aniversário na semana passada e, para além da doença do joelho, parece estar de boa saúde em geral.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários