Covid-19. Regiões do Algarve, Madeira e Açores com menos imunidade

Inquérito Serológico Nacional conclui que estas regiões têm menor seroprevalência. Estudo sublinha ainda que há uma menor concentração de anticorpos três meses depois da infecção, o que indica uma redução dos mesmos após esse período.

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paulo pimenta

De acordo com os resultados da segunda fase do Inquérito Serológico Nacional, elaborado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), as regiões do Algarve (7,7%), Madeira (6,2%), Açores (5,8%) e o grupo etário entre os 70 e os 79 anos (8,9%) são os grupos com menor seroprevalência. O estudo concluiu ainda que há uma menor concentração de anticorpos três meses depois da infecção, o que indica uma redução dos mesmos após esse período. O secretário de Estado e Adjunto da Saúde refere que para já, seguindo a indicação de estudos realizados, mantém-se o intervalo de seis meses para os doentes recuperados de covid serem vacinados.

Os dados preliminares já tinham sido revelados, mas esta segunda-feira, foi apresentado o relatório da segunda fase do Inquérito Serológico Nacional, que contou com dados de 8463 pessoas, com idades entre 1 e 79 anos, estudadas entre 1 de Fevereiro e 31 de Março deste ano. Em termos nacionais, a seroprevalência de anticorpos para o SARS-CoV-2 detectada nesta segunda fase foi de 15,5%, a maior parte proveniente da infecção já que na fase em que o estudo foi feito a campanha vacinal ainda tinha pouco tempo.

Segundo as conclusões, são as regiões do Algarve, Açores, Madeira e as pessoas entre os 70 e os 79 anos os grupos que apresentaram menor seroprevalência. “O maior número de pessoas susceptíveis nestes grupos, contribuí para que possam ter um maior risco de infecção, sendo por isso grupos aos quais deve ser prestada especial atenção na implementação do Plano de Vacinação contra a covid-19”, defendem os investigadores no relatório. Já as regiões Norte (16,6%), Centro (15,7%), Lisboa e Vale do Tejo (16,5%) e Alentejo (15,9%) foram as que registaram maior seroprevalência.

“O que verificámos foi muito consistente com os dados da Direcção-Geral da Saúde, do sistema de monitorização de casos de covid-19. As regiões Norte e Lisboa e Vale do Tejo tiveram maior expressão de casos e apresentam maior seroprevalência”, explicou a investigadora Irina Kislaya, referindo que as regiões que apresentaram menos seroprevalência foram as que registaram menor taxa de incidência acumulada. No caso das regiões autónomas o controlo da infecção poderá ter sido facilitado pela dimensão do território. As diferenças detectadas poderão também estar relacionadas “com diferenças na estrutura da população, de actividades económicas”, entre outras possíveis explicações.

Quanto à população com menos de 20 anos, o risco de infecção “não parece ser inferior ao da população adulta”, conclui a avaliação. “A diferença entre a seroprevalência estimada e a incidência de covid-19 notificada pode justificar-se pelo facto de nestas idades a apresentação clínica de covid-19 poder ser mais ligeira ou a infecção mais frequentemente assintomática do que na população adulta, o que foi também encontrado neste estudo”, lê-se no comunicado com as principais conclusões.

Redução de anticorpos ao final de três meses

A análise concluiu também que as pessoas com duas doses da vacina apresentaram elevados níveis de anticorpos, mais do que aquelas que tinham apenas uma dose e do que aqueles que foram infectados pelo vírus. Segundo os resultados, 98,5 % das pessoas com o esquema vacinal completo tinha anticorpos ao vírus e com elevadas concentrações, o que faz esperar um aumento do número de pessoas com imunidade à medida que o plano de vacinação decorre de forma mais acelerada.

“Observou-se ainda uma menor seroprevalência e menor concentração de anticorpos três meses após infecção ou contacto com caso suspeito ou confirmado de covid-19, o que sugere a possibilidade de decaimento de anticorpos ao longo do tempo, cujo efeito na duração da protecção contra a infecção deve ser avaliado em estudos específicos”, destaca o estudo, que refere que se justifica a vacinação das pessoas recuperadas. Mas também salienta que esta diminuição e mesmo ausência de anticorpos detectáveis “podem não corresponder a uma total ausência de protecção, dado o papel da memória imunitária e da manutenção de mecanismos de imunidade celular”.

“O sistema imunitário é muito complexo. Estamos apenas a avaliar um componente do sistema imunitário. Temos também a resposta celular que confere protecção. Da dinâmica dos anticorpos, e o que foi apresentado foi o fim de 90 dias, parece haver um decaimento de anticorpos, mas é a dinâmica normal da resposta da vacina e da infecção por agente viral. O que ainda não conhecemos é quando se vai estabelecer um patamar de imunidade mais duradoura ao longo do tempo”, disse a investigadora do Insa Raquel Guiomar. O Insa tem a decorrer seis estudos relativos à efectividade da vacina, o que permitirá avaliar a duração da imunidade.

Questionado sobre se haverá uma revisão do tempo recomendado para vacinar os doentes recuperados de covid, o secretário de Estado e Adjunto da Saúde, António Lacerda Sales, explicou que os estudos indicam para já que a vacinação destas pessoas deve ocorrer seis meses depois da infecção. “É isto que a ciência neste momento indica e são estas normas que vamos respeitar. Com a evolução, se se vier a verificar novas condições ao nível da EMA [Agência Europeia dos Medicamentos] e ECDC Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças] e autoridades nacionais, adaptaremos o nosso plano de vacinação.”

Já sobre o uso de máscaras nas pessoas vacinadas, o responsável também reafirmou que para já ainda não existem dados robustos quanto à questão dos vacinados poderem ser infectados ou não. E por isso, “como medida de prevenção, o que estamos a indicar é a continuidade do uso da máscara, do distanciamento físico, da higienização das mãos”.

Monitorizar variantes

António Lacerda Sales foi também questionado sobre a possibilidade de uma terceira dose da vacina, hipótese já admitida por vários investigadores internacionais. O secretário de Estado prefere o uso do termo “dose subsequente”, para que não se fique com a ideia que com uma terceira dose o esquema vacinal ficará completo. “Não sabemos efectivamente se com uma dose subsequente temos um esquema vacinal completo ou se vamos necessitar, como na da gripe, de vacinar anualmente. Temos de adaptar as nossas decisões em função do conhecimento fundamentado na ciência”, disse.

Já sobre a vacina da Janssen, e a hipótese de serem desperdiçadas doses por causa de estar recomendada apenas aos maiores de 50 anos, o responsável referiu que a norma em vigor “poderá não ser definitiva”. “Vai depender da evolução dos estudos.”

Questionado sobre a abertura do país e a monitorização da variante indiana – segundo o último estudo do Insa Portugal tem nove casos registados, dois dos quais da linhagem mais associada a infecções na índia e no Reino Unido -, Lacerda Sales mostrou-se confiante na capacidade de testagem do país para controlar a situação. Embora admita que “não há risco zero”.

“Todos os cidadãos que vierem terão de entrar com um teste negativo. Acresce que temos os nossos laboratórios, quer públicos, privados, quer academia, preparados para que os casos positivos ou que vierem a positivar em território nacional possam fazer retestagem e possam enviar para o Insa [as amostras] para se poder fazer a respectiva sequenciação genómica. Isso dá-nos um certo conforto e segurança naquilo que é a monitorização das variantes”, afirmou.

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