Genes também influenciam o percurso escolar, mas pouco
Estudo genético de grande escala, que envolveu 300 mil pessoas, identificou 74 variantes genéticas que terão uma influência diminuta no nosso percurso escolar. São genes activos no nosso cérebro ainda numa fase de desenvolvimento pré-natal.
Os factores ambientais continuam a ser os que mais importante e os que, de facto, terão um peso decisivo no percurso académico que conseguimos fazer. Porém, um estudo publicado na edição desta semana na revista Nature conclui que os factores genéticos também entram, ainda que com um pequeno papel, nesta equação. Segundo é referido, a influência de 74 variantes genéticas identificadas explica entre 0,43 e 1% da variação no desempenho escolar e no número de anos dedicados à formação.
O estudo foi conduzido por 253 investigadores internacionais e inclui 65 bases de dados de 15 países, abrangendo apenas pessoas de descendência europeia. No total, Pilipp Koellinger, da Universidade Vrije em Amesterdão (Holanda), e os seus colegas apresentam informação sobre um total de 300 mil pessoas, sendo que incluíram dados de 100 mil pessoas recolhidos num estudo anterior e de 110 mil que fazem parte da Biobank, a base de dados pública do Reino Unido. Foram identificadas 74 variantes genéticas associadas ao percurso escolar. Muitos destes genes, dizem os autores, influenciam o desenvolvimento do cérebro, ainda antes do nascimento. Estão activos no tecido nervoso, especialmente durante o período pré-natal.
Porém, o impacto real destes genes será diminuto. “Os genes só influenciam parcialmente capacidades cognitivas e traços de personalidade, como a persistência, que, por sua vez, influenciam o número de anos que uma pessoa passa na escola”, refere o comunicado da Universidade da Califórnia do Sul (USC).
Daniel Benjamin, um dos autores do artigo e professor da USC, sublinha esta ideia no mesmo comunicado: “O percurso escolar é influenciado por genes e ambiente. As variantes genéticas que encontrámos explicam apenas uma pequena parte das diferenças de educação entre indivíduos.” Os resultados obtidos neste estudo levaram os autores a concluir que a influência genética destas 74 variantes identificadas poderá explicar menos de 1% das diferenças nos percursos escolares. “Na variante com o efeito mais marcante, a diferença entre uma pessoa com nenhuma cópia [dessa variante] e aqueles que têm duas cópias pode significar, em média, mais nove semanas de estudos”, adianta Daniel Benjamin. Mais: os resultados deste estudo, diz o investigador, sugerem que a influência genética no percurso escolar estará presente em milhares, ou milhões, de variantes genéticas que ainda não foram identificadas.
São os próprios autores que colocam um travão numa leitura mais sensacionalista das conclusões do estudo. “Interpretações simplistas dos nossos resultados, tais como falar de 'genes da educação', são totalmente enganadoras. Ao mesmo tempo, apesar do reduzido efeito das variantes genéticas, estes resultados são úteis porque podemos aprender muito se estudarmos os efeitos da combinação destas variantes”, defende Daniel Benjamin no comunicado.
Peter Visscher, outro dos autores do artigo e investigador do Instituto do Cérebro de Queensland (Austrália), adianta ainda que “estas minúsculas diferenças genéticas encontradas podem vir a ajudar-nos a perceber por que é que algumas pessoas são mais susceptíveis ao declínio das capacidades cognitivas do que outras”.
A equipa multidisciplinar também tentou relacionar se algumas das variantes genéticas ligadas ao desempenho escolar se sobrepõem a variantes associadas a doenças e, segundo o comunicado, perceberam que “alguns dos genes também estão associados a um risco para a doença de Alzheimer, distúrbio bipolar e esquizofrenia”.