Morreu Guy Hamilton, realizador de Goldfinger e três outros Bond
Um dos autores que mais filmes 007 realizou, Hamilton morreu aos 93 anos depois de uma carreira em que dirigiu Sean Connery, Roger Moore, Peter Ustinov ou Harrison Ford e em que começou como assistente de Carol Reed e John Huston.
O realizador britânico Guy Hamilton, responsável por quatro filmes da série dedicada ao agente secreto James Bond, morreu esta quarta-feira aos 93 anos em Maiorca. Hamilton, cuja carreira também passou pela obra de Agatha Christie e que chegou a ser duplo de Orson Welles enquanto actor, realizou alguns dos filmes mais importantes da saga 007, na sua era de ouro das décadas de 1960 e 70.
Primeiro foi Goldfinger, em 1964, depois 007 – Os Diamantes São Eternos (1971), ambos com o Bond original, Sean Connery; seguir-se-iam 007 –Vive e Deixa Morrer (1973) e 007 – O Homem da Pistola Dourada (1974), já com Roger Moore. A transição de Connery para O Santo Roger Moore foi supervisionada por ele, como detalha a BBC, que o cita sobre a sua chegada ao franchise, no início dos anos 60: “Tinha uma ideia muito nítida do que gostaria de fazer e de como gostaria de fazê-lo e foi uma experiência muito feliz”, disse sobre o convite feito pelo seu amigo, o produtor Cubby Broccoli.
Guy Hamilton está entre os realizadores que mais filmes do franchise 007 realizaram, a par de John Glen e Terence Young. Para Hamilton, não havia uma fórmula e o trabalho, muito trabalho, era o segredo do seu sucesso. A sua estreia fez-se com o título para sempre ligado à música de Shirley Bassey e à Bond Girl Pussy Galore; encerrou o capítulo Bond com Christopher Lee como Scaramanga, um dos seus mais emblemáticos vilões. Pelo meio, ajudou não só na passagem dos estilos de Connery e Moore, mas também a definir parte do imaginário Bond, formada pelos objectos, símbolos e locais que perfazem esse seu universo – nomeadamente as Bond Girls como acessórios. “Estávamos a criar um mundo de sonhos, a definir o que era ‘bondiano’”, disse, citado pelo diário britânico Telegraph.
Era preciso “um couro como o de um rinoceronte” para lidar com as pressões e a carga de fazer um Bond movie, cita-o ainda o Telegraph, tendo como termo de comparação o seu início de carreira, em França, onde passou parte da juventude e onde se estreou nos bastidores do cinema.
Depois passou pela Marinha e, já depois da Segunda Guerra Mundial, foi assistente de realização de Carol Reed – que considerava o seu pai cinematográfico – em três filmes, incluindo o importante O Terceiro Homem (no qual foi duplo de Welles), e de John Huston em A Rainha Africana. Queria lançar-se em nome próprio o quanto antes e o seu primeiro filme foi The Ringer, em 1952; uma década depois era-lhe oferecido o primeiro Bond, Dr. No, que acabaria por ir para Young.
Dois anos depois, faria Goldfinger, um título sonante numa carreira que também passou por Miss Marple e Poirot, personagens detectivescas de Agatha Christie, nos filmes The Mirror Crack’d (1980) e Evil Under the Sun (1982), com Peter Ustinov, bem como por Force 10 from Navarone (1978), com Harrison Ford, ou Battle of Britain (1969), com Michael Caine.
Filho de um diplomata, nasceu em Paris em 1922 e casou-se duas vezes. Vivia na ilha espanhola de Maiorca e está a ser lembrado como um “maravilhoso realizador” que “foi para a grande sala de montagem no céu”, como escreveu no Twitter Roger Moore.