O tempo corre a favor de Passos
A verdade é esta: todos os nomes que até agora mostraram disponibilidade para serem as novas caras do PSD têm caras mais velhas do que a de Pedro Passos Coelho.
Leram bem: não é contra. É a favor. O tempo corre a favor de Pedro Passos Coelho. Quem tenha lido os jornais nas últimas semanas deparou-se com várias entrevistas e múltiplos comentários lamentando a “solidão” e a “fragilidade” do actual líder do PSD. Não vejo onde elas estejam. E não é por Passos Coelho ter ganho as legislativas e ter acabado de ser reeleito sem concorrência e com 95% de votos – é porque há um fosso gigantesco, em termos de lucidez, arejamento e experiência política, entre o seu discurso e o discurso daqueles que alegadamente se lhe opõem.
A oposição a Passos Coelho vem toda da actual esquerda do PSD – são aqueles que acham que o ex-primeiro-ministro não foi suficientemente “social-democrata” nos últimos quatro anos. Só que essa definição de social-democracia vai invariavelmente desembocar num modelo de sociedade estatista, alumiado pela eterna lamparina de São Bento, que se mostra esgotado há 20 anos. São aqueles que gostavam que o PSD fosse um bocadinho mais parecido com o PS. E a verdade é esta: todos os nomes que até agora mostraram disponibilidade para serem as novas caras do PSD têm caras mais velhas do que a de Pedro Passos Coelho.
Veja-se o caso de Nuno Morais Sarmento. Ao mesmo tempo que defendia o magnífico estado angolano, Morais Sarmento declarava à Antena 1 que Passos Coelho era o melhor líder do PSD em 2016, mas que talvez não o fosse em 2017, dada a sua “enorme dificuldade” em vir a protagonizar “um novo ciclo político”. Donde, Morais Sarmento admitia vir a candidatar-se no futuro à liderança do PSD. É uma das piadas do ano. Passos Coelho não tem estamina para “um novo ciclo político”, mas o braço direito de Durão Barroso e de Pedro Santana Lopes tem. É uma lógica admirável, do tipo: como já vai faltando energia à minha avó, vou substituí-la pela minha bisavó.
A oposição do PSD está a ver tudo mal: os últimos quatro anos não envelheceram apenas Passos Coelho – envelheceram, e em muito maior proporção, todas as antigas caras do PSD, que hoje em dia parecem múmias de um outro tempo. É claro que em Espinho poderia e deveria ter surgido oposição a Passos. Mas essa oposição, para ter alguma eficácia, precisava de ter vindo de uma (inexistente) ala liberal, acusando-o de não ter sido suficientemente reformista. Os opositores que surgiram, presencialmente ou espiritualmente, não se distinguem de António Costa nas críticas que fazem a Passos Coelho – e tal como António Costa, aquilo que têm à sua frente é uma parede de realidade onde estão condenados a esbarrar.
Passos esteve muito confiante no congresso, e a razão dessa confiança explicou-a numa entrevista à SIC no início de Março, quando fez uma declaração que resume bem as suas convicções: “Se pudéssemos, sem dinheiro, devolver salários e pensões e no fim as contas batessem todas certas, passaria a defender o voto no Partido Socialista, no Bloco de Esquerda e no Partido Comunista.” Nem mais. Porque das duas, uma: ou António Costa consegue o milagre das rosas, a sua estratégia económica funciona e ele tem muitos anos de vida como primeiro-ministro. Ou isto corre tudo mal, e então a estratégia certa é a de Passos Coelho, e não a de Rui Rio ou de Morais Sarmento. Eu acredito, como Passos, que a estratégia socialista vai falhar redondamente. Mas se não falhar, o tempo será sempre de António Costa, e nunca dos “sociais-democratas” do PSD.