Três estados americanos aplicam quarentena automática a pessoal médico vindo de África
Nova Iorque, Nova Jérsia e Illinois dão um passo à frente na contenção da epidemia do ébola. OMS diz que já há 10.141 casos e 4922 mortos.
Os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, sigla em inglês) estavam de acordo que cada estado poderia aumentar o nível de protecção em relação à epidemia, explicou Andrew Cuomo, governador de Nova Iorque. Quinta-feira à noite soube-se que um médico de 33 anos, Craig Spencer, está infectado com o vírus. O norte-americano esteve um mês na Guiné-Conacri com a organização Médicos Sem Fronteiras a tratar doentes com ébola.
“Uma quarentena voluntária é um oximoro”, explicou o governador, citado pela agência Reuters. “Vemos o que acontece. As pessoas andam de metro. Andam de autocarro. Pode infectar-se centenas e centenas de pessoas.”
O médico chegou a 17 de Outubro aos Estados Unidos sem sintomas. Desde então, controlou a febre, já que a incubação da doença dura entre dois a 21 dias após o contacto com o vírus. Quinta-feira, quando descobriu que tinha 37,9 graus, foi imediatamente para o hospital. Mas no dia anterior, apesar de se ter sentido um pouco mais fraco, ainda foi correr, jogou bowling, esteve num café e num restaurante, e ainda andou de táxi.
Para já, a condição do médico é estável. A sua namorada foi posta em quarentena e dois amigos de Craig Spencer foram isolados. O apartamento do médico foi descontaminado e selado e os locais por onde passou foram analisados, de acordo com as agências.
“Não há qualquer razão para nos preocuparmos”, disse por sua vez Bill de Blasio, mayor da cidade de Nova Iorque, que andou no metro para demonstrar à população que se pode continuar a fazer a vida normal na cidade. Nova Iorque “está completamente preparada” para enfrentar o ébola, disse, citado pela agência AFP. A cidade “tem o melhor sistema de saúde pública do mundo” e a situação está a ser “gerida e bem gerida”.
No aeroporto de Newark, em Nova Jérsia, já foi posta em quarentena uma mulher vinda de África Ocidental, adiantou a Reuters. Quando chegou, a profissional de saúde não tinha quaisquer sintomas, mas sexta-feira ao final do dia desenvolveu febre e foi transportada para o Hospital Universitário de Newark, onde está isolada e a ser seguida.
Ainda na sexta-feira, a enfermeira Nina Pham soube que estava livre do ébola. A norte-americana apanhou a doença por ter estado em contacto com um liberiano infectado, que viajou para os Estados Unidos, onde acabou por adoecer e morrer. Num acto público para serenar a população, Barack Obama recebeu a enfermeira na Casa Branca e deu-lhe um abraço.
Em África, a epidemia continua fora de controlo nos três países mais afectados: a Guiné-Conacri, a Libéria e a Serra Leoa. Por seu lado, o Mali continua em alerta por causa da epidemia. Quinta-feira à noite soube-se que uma menina de dois anos, vinda da Guiné-Conacri, tinha ébola. A criança veio para o Mali com a avó e acabou por morrer na sexta-feira.
Segundo a OMS, quando a criança entrou no país, a 19 de Outubro, já tinha sinais de estar doente. Depois, viajou até Bamaco, a capital, no Sudoeste do país, onde esteve duas horas, e foi dali para Kayes, a 600 quilómetros a noroeste da capital. “Ocorreram múltiplas oportunidades de exposição já que a criança estava com sintomas visíveis”, lê-se num comunicado da organização, referindo-se que, antes deste caso, já estavam no país equipas da OMS e dos CDC, para ajudar a enfrentar um potencial surto.
Já em Kayes, a menina foi ao hospital dia 21 de Outubro com febre, tosse, a sangrar do nariz e com sangue nas fezes. Os testes deram negativos para a malária, mas positivos para a febre tifóide. O ébola só foi identificado na criança a 23 de Outubro. Há 43 pessoas a serem investigadas, incluindo 10 trabalhadores da saúde que estão isolados e a ser monitorizados.
“Faremos tudo para evitar a psicose, o pânico”, disse Ibrahim Boubacar Keïta, Presidente do Mali, numa entrevista à rádio francesa RFI. “Depois da eclosão desta epidemia, nós tomamos todas as medidas no Mali para ficarmos longe, mas nunca nos vedámos. A Guiné-Conacri é um país vizinho do Mali, temos uma fronteira em comum que nunca fechámos, que não vamos fechar.”