Dois acidentes em quatro meses e a sobrevivência da Malaysia Airlines parece estar em risco

A já instável companhia de aviação malaia dificilmente conseguirá reerguer-se do desaparecimento do MH370 e do acidente do MH17.

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Em quatro meses, a companhia aérea estsve envolvida em dois acidentes com enredos muito particulares AFP

Longe de se recompor do embate causado pelo desaparecimento do voo MH370, a 8 de Março, a Malaysia Airlines parece ter definitivamente entrado em rota de crise. A companhia, detida maioritariamente pelo Estado, está a ser castigada a todos os níveis pelos dois acidentes que protagonizou no curto espaço de quatro meses. Os cenários de auxílio financeiro e de venda a privados estão em cima da mesa.

Na sexta-feira, assim que a bolsa da Malásia abriu, as acções da transportadora aérea caíram a pique, atingindo uma queda máxima de 17% e encerrando com uma perda de 11%. Uma tendência que, apesar de mais vincada, segue o movimento das acções da empresa desde o desaparecimento do voo que ligava Kuala Lumpur a Pequim, com 239 pessoas a bordo.

A maior perda, do ponto de vista financeiro, é sentida directamente nos bolsos dos contribuintes do país, visto que o Estado detém 69% do capital da companhia de aviação. Mas o impacte para os cofres públicos da Malásia pode não ficar por aqui: especula-se sobre um eventual auxílio financeiro, como já aconteceu no passado, aliás. O cenário de desmantelamento da transportadora, com a posterior venda a privados dos activos rentáveis, também é referido por alguns especialistas na imprensa internacional.

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Um acidente, especialmente um que seja fatal, é o que de pior pode acontecer a uma companhia de aviação. Dois acidentes mortais, num espaço tão curto de tempo, levam a crer que a empresa terá muitas dificuldades reerguer-se. Até porque, tanto o desaparecimento do MH370, como o presumível abate do MH17 no Leste da Ucrância, estão envoltos num enredo muito particular e estão entre os piores da história da aviação comercial.

A tudo isto soma-se o facto de, mesmo antes dos desastres, a Malaysia Airlines já se apresentar como uma transportadora aérea em dificuldades, com anos consecutivos de prejuízos e uma aparente apatia face às investidas da concorrência. Desde 2012 que tinha em marcha um plano de reestruturação, que levou a profundos ajustes na oferta.

Os últimos resultados conhecidos, já depois do desaparecimento do voo MH370, mostraram um agravamento das perdas da companhia, que no primeiro trimestre deste ano registou um resultado líquido negativo de 137,4 milhões de dólares (cerca de 101,6 milhões de euros) – um agravamento de quase 60% face ao mesmo período de 2013.

Apesar de a empresa ter apostado numa estratégia agressiva de preços para manter o tráfego, os dados da procura comprovam os inevitáveis impactos do acidente de Março. Dois meses depois, e num momento em que a indústria está a crescer (especialmente em regiões como a Ásia), o número de passageiros caiu 4%, o que correspondeu à perda de quase 55 mil clientes.

Outro factor vai pesar no futuro da Malaysia Airlines: as eventuais indemnizações que poderá ter de pagar aos familiares dos passageiros do voo que se despenhou na Ucrânia na quinta-feira. Confirmando-se que o MH17 foi abatido, a aeronave estará protegida pelo seguro, mas não parece claro que assim seja no que diz respeito às pessoas que seguiam a bordo. E, neste momento, a companhia está a pagar a factura do desaparecimento de Março, já que, depois de ter oferecido compensações de cinco mil dólares, foi obrigada a subir a fasquia para 50 mil.     

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