O Sr. Vintém e a D.ª Inércia

A vida é mesmo traiçoeira. J.M. Tavares (PÚBLICO, 10 de Julho), que sabe de fonte sabida, como Poiares Maduro, que a reestruturação da dívida é coisa “lunática”, convocou o Sr. Vintém contra uma proposta que só devolveria o certificado de aforro nas calendas, já ele terá encomendado a alma. A D.ª Inércia, que ouviu a conversa, meteu-se logo: “ai vizinho, que o melhor é sempre deixar tudo como está e prontos”.

Desconfiado, o Sr. Vintém, que não é analfabeto, foi ler o malfadado relatório, e ficou descansado: afinal o certificado de aforro está protegido e vai continuar a poder poupar, onde é que o Tavares foi buscar aquela história? Ainda bem, pensará, porque a coisa está mesmo feia é nos bancos, com a família Espírito Santo a ameaçar falência, e no governo, que a austeridade está a resultar que é um gosto vê-la. Que há riscos, ah pois há, mas são os de não escutar sequer esses conselheiros da senhora Merkel, que agora arrenegam a estratégia da dívida e gritam pela reestruturação.

É que a vida tem destas coisas. Quando já se confiscou parte da reforma do sr. Vintém e se espremeu a D.ª Inércia com impostos, há ainda quem em Portugal entenda que o Natal é todos os dias. Que falta que fizeram estas vozes avisadas no tempo da reestruturação daquela dívida que salvou a Alemanha, para insistirem em que era preciso arruinar a sua pátria pela carteira dos credores!

Professor universitário, ex-líder do BE

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