Obras na fachada do Museu Antoniano causam polémica na zona da Sé de Lisboa
Críticas à intervenção levaram a vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa a promover nesta quinta-feira uma reunião com os munícipes residentes nas imediações da Igraje de Santo António.
A intervenção é da responsabilidade da Câmara de Lisboa e integra-se num projecto de renovação e ampliação do espaço dedicado à vida e ao culto do santo, que ali terá nascido.
Grande parte da estreita fachada onde se situa a entrada do museu encontra-se neste momento coberta por uma grelha metálica perfurada, que esconde os aparelhos de ar condicionado agora instalados e que — caso seja tratada da forma que se vê nos desenhos disponíveis no site do atelier de aquitectura responsável pelo projecto — ocultará o frontão triangular existente sobre a porta.
A fotografia do local colocada na segunda-feira numa página do Fórum Cidadania no Facebook mereceu comentários que comparam a cobertura da parede a um grelha de fogão de cozinha, a uma burka, a uma grade de cervejas, ou a uma parede de escalada. Outros comentários, todavia, dão a entender que o trabalho não está concluído e que o controverso painel poderá vir a ser, também ele, revestido por uma outra estrutura.
Também no Facebook alguns moradores residentes no Largo de Santo António à Sé, com destaque para o actor Filipe Vargas, criticaram duramente a intervenção, enquanto que outros, alguns deles arquitectos, se distanciaram do tom dessas críticas, num aceso confronto de opiniões sobre aquilo que deve ser a forma de intervir no edificado dos centros históricos.
As objecções dos vizinhos da igreja levaram já a vereadora da Cultura a promover a realização de uma reunião destinada a explicar a lógica da intervenção, a qual decorrerá no próprio museu nesta quinta-feira à tarde.
A requalificação do Museu Antoniano, que passará a chamar-se Museu de Santo António, vai permitir a criação de uma nova área museológica, a instalar na antiga Sala do Risco, num edifício contíguo. O actual museu e a antiga Sala do Risco, onde será montada uma exposição de cariz mais erudito sobre Santo António, ficarão ligados entre si.
Na sequência da polémica desencadeada e em resposta ao PÚBLICO a vereadora Catarina Vaz Pinto, titular do pelouro da Cultura na Câmara de Lisboa, garantiu nesta quarta-feira que o frontão de pedra existente sobre a porta de entrada não será tapado, uma vez que “o material proposto [para essa área da parede], com uma perfuração que garante a permeabilidade visual entre interior e exterior, permite uma visibilidade das cantarias pré-existentes”.
Uma simulação da imagem final da estreita fachada do imóvel também fornecida pela autarquia mostra que a solução adoptada se afasta significamente dos desenhos do projecto inicial. Por um lado, a porta e o frontão ficam visíveis, em vez de ficarem cobertos com a tela que reveste o resto da parede, por cima da grelha metálica. Por outro, como a vereadora sublinha, “as dimensões da estrutura que constavam do projecto de execução (...) foram alteradas — reduzidas em altura — de forma a afastar o painel da varanda do primeiro andar do edifício contíguo, salvaguardando a sua segurança”.
Esta redução — que volta a deixar à vista o gradeamento existente no topo da fachada, como se fosse uma janela aberta sobre o largo, a partir de uma pequena praça sobrelevada situada por cima do museu — não altera, contudo, a distância entre a estrutura e a varanda do edifício vizinho.
A câmara assegura também que a decisão de montar o polémico painel na fachada do museu “não foi consequência da instalação dos aparelhos de ar condicionado” por cima do frontão. “A intervenção exterior procurou responder à necessidade de criar uma maior visibilidade ao novo museu, situado num recanto pouco visível e de difícil percepção, permitindo assim uma maior superfície de comunicação e enquadramento urbano”.
Catarina Vaz Pinto refere também que a estrutura em causa consiste num “elemento único, exterior e independente do edifício existente, de carácter reversível e de construção ligeira executado com materiais resistentes às intempéries”.
A intervenção no museu, acrescenta, está a decorrer de acordo com “a filosofia da proposta seleccionada” num concurso por convites lançado pelo município em 2012. A proposta vencedora é da autoria do atelier de arquitectura Site Specific, em parceria com o P-06 Atelier, e tem a assinatura dos arquitectos Patrícia Marques e Paulo Costa. O objectivo dos projectistas, lê-se na página da internet do Site Specific, consiste em “devolver a ambos os espaços [o do actual museu e o da Sala do Risco] as suas características originais, retirando, sempre que possível e quando desnecessárias, as intervenções de que foi alvo”.
O Museu Antoniano está encerrado desde 18 de Novembro por causa das obras, estando a sua reaberura anunciada para o fim do primeiro semestre deste ano, que termina na próxima segunda-feira. A igreja de Santo António, erguida após o terramoto de 1755 no memo local onde o sismo destrui uma outra igreja com origem no século XV, foi classificada como monumento nacional em 1931. O Museu Antoniano foi inaugurado nos anos 80 do século passado e funciona num edifício adossado à igreja, que data da década de 60 também do século passado.