Partido anti-UE obtém resultado pior do que o antecipado na Holanda
Partido de Geert Wilders poderá ter ficado em terceiro lugar na Holanda e perdido um eurodeputado, segundo sondagens à boca das urnas. Holanda e Reino Unido foram os primeiros países a votar para o Parlamento Europeu.
A Holanda e o Reino Unido foram os primeiros países a votar, nesta quinta-feira, mas apenas os holandeses optaram por autorizar a divulgação das sondagens à boca das urnas.
Os dois países partilham o pouco entusiasmo pela votação europeia, e a previsão de bons resultados para partidos anti-União Europeia.
Contrariamente à percepção comum, segundo a qual o voto de protesto é o que vai mais facilmente às urnas, o instituto holandês TNS NIPO indicava antes da votação que apenas 33% dos eleitores holandeses anti-União Europeia planeavam ir votar, comparado com 65% pró-UE. “Ainda que o eurocepticismo esteja num ponto alto, os ‘eurófilos’ parecem estar a fazer um esforço para que as suas vozes sejam ouvidas”, comentava o instituto.
Se na Holanda o dia foi marcado pela não-tão-boa votação do partido do populista de cabelo louro platinado, do Reino Unido não se esperava divulgação de resultados, mas as sondagens apontavam quase todas para uma vitória do Partido para a Independência do Reino Unido (UKIP). Se for o mais votado, será a primeira vez desde a I Guerra Mundial que um partido não trabalhista nem conservador fica em primeiro lugar em eleições nacionais.
Isto apesar de uma série de notícias que parecem saídas de jornais satíricos: um membro do partido que empregava imigrantes ilegais, outro que defende que a culpa do mau tempo é dos homossexuais, e um líder, Nigel Farage, que depois de ter dito a um entrevistador que ele “sabia a diferença” entre imigrantes alemães e romenos, se justificou dizendo que estava “cansado”.
Selfies e abstenção
No Reino Unido, as autoridades estavam a aconselhar os eleitores para não tirarem selfies com os telefones nas cabines de voto – no Twitter havia alguma indignação: “por um lado queixam-se da baixa participação, do outro não autorizam selfies”, queixava-se um britânico no site de microblogging.
Com 36% e 34% de participação em 2009, Holanda e Reino Unido são dos países com maior abstenção na União Europeia (a Eslováquia, Lituânia e Roménia estão muito acima, Portugal surge a par da Holanda). Há cinco anos, a participação nas eleições para o Parlamento Europeu foi de 43%, o valor mais baixo de sempre (desde 1979, ainda com nove estados, a participação foi de 61,99%); este ano espera-se que baixe para os 40% ou ainda menos.
Quem tenta capitalizar com este ambiente de desapontamento é a extrema-direita de Marine Le Pen, por exemplo, que também aparece nas sondagens como o partido mais votado de França (23% correspondentes a 23 deputados, com a UMP, na oposição, a 22% com 20 eurodeputados). França é segundo país em termos de eurodeputados. Mesmo na recta final da campanha, o presidente-fundador do partido, Jean-Marie Le Pen, pai da actual presidente Marine, disse que o vírus do Ébola poderia resolver o “problema da imigração”. Marine Le Pen – cuja nova Frente Nacional renovada insiste que não é racista – não comentou.
Le Pen e Wilders foram os protagonistas do anúncio da tentativa de um grupo anti-União Europeia no Parlamento Europeu (tentando cortejar o britânico Farage, mas este tem até agora recusado o convite). Alguns analistas esperavam com antecipação o resultado holandês como um “barómetro” para a tendência anti-europeia, assim, as projecções podem dar alguma esperança aos “eurófilos”.
Populistas também na Alemanha
Mas não é só a extrema-direita que beneficia com o ambiente de descontentamento. Em Itália, a grande incógnita é o partido do antigo comediante Beppe Grillo, o Movimento 5 Estrelas. Apesar de estar em segundo, não é claro o que poderá fazer quando chegar ao Parlamento Europeu – é o maior dos partidos que os analistas dizem que estão “soltos” e podem decidir juntar-se a um qualquer grupo. A principal proposta de Grillo é um referendo à manutenção da Itália na zona euro.
Na Grécia, a austeridade leva ao primeiro lugar a Coligação de Esquerda Radical (Syriza) cujo candidato é também o cabeça de lista da esquerda europeia, Alexis Tsipras (que dá ainda o nome a um conjunto de partidos de esquerda em Itália). Este quer lutar contra a política de austeridade e renegociar o memorando e reestruturar a dívida.
Finalmente na Alemanha a União Democrata-Cristã (CDU) de Angela Merkel aparece inabalável em primeiro lugar; aliás, na campanha, quem aparecia nos cartazes do partido era a chanceler e não o principal candidato da CDU.
Mas a crise fez os seus efeitos: há a entrada do partido que acabou de fazer um ano de existência, Alternativa para a Alemanha (AfD), e que tem uma posição crítica em relação às políticas de resgate (já se apresentou como anti-euro, ou a favor de um euro apenas para um pequeno conjunto de países fortes). Apesar de se dizer pró-União Europeia, esta é a primeira vez que um partido com uma agenda contra uma política-chave da União Europeia tem este sucesso eleitoral. Também preocupante é o facto de as sondagens darem a perspectiva de eleição a um deputado do Partido Nacional Democrata, associado a neonazis, e que até agora só tinha conseguido pequenas representações em parlamentos de estados-federados.
Temendo os efeitos perniciosos da baixa participação na escolha dos 751 eurodeputados dos 28 estados-membros, o Parlamento tentou este ano uma novidade: apresentar cabeças de lista para cada grupo que fossem designados como candidatos à Comissão Europeia. Jean-Claude Juncker e Martin Schulz, do grupo de centro esquerda e de centro direita, são os que têm hipótese, e junto com os outros candidatos têm levado a cabo uma série de debates televisivos para tentar despertar interesse numa campanha que tende a reflectir sobretudo a política nacional e discutir pouco as questões europeias.
Muitos analistas dizem que com a proximidade de votação entre os dois principais grupos políticos e a hipótese de que o “parceiro” dos populares (centro-direita), os liberais, não consiga representação suficiente para uma maioria, o cenário mais provável é uma “grande coligação” entre os dois maiores grupos, o que daria aos líderes europeus a circunstância perfeita para impor um presidente da Comissão Europeia “de consenso”, como foi Durão Barroso. Os candidatos têm recusado essa hipótese: “Está a falar com o próximo presidente da Comissão Europeia”, garantiu Martin Schulz num debate televisivo.