Berlim pede explicações a embaixador americano sobre escutas a Merkel
Casa Branca garante que não está de momento a espiar a chanceler alemã.
A Alemanha chamou entretanto o embaixador americano em Berlim para um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle, para pedir explicações – numa acção pouco habitual entre países aliados, e na imprensa os jornais espelhavam a gravidade da situação: "uma bomba diplomática" (Die Welt), "um ataque ao coração político da chanceler" (Süddeutsche Zeitung).
A informação de que o telemóvel de Merkel é alvo da curiosidade dos espiões americanos chegou ao conhecimento do Governo alemão por causa de uma investigação da Spiegel, diz a revista no seu site. Depois de examinados pelo Serviço de Informação Federal e pelo Secretariado Federal de Segurança para asTecnologias de Informação, os dados foram considerados suficientemente preocupantes pela chancelaria alemã para que Merkel telefonasse a Obama.
“A confirmarem-se, estas práticas são completamente inaceitáveis”, disse o porta-voz da chanceler, Steffen Seibert. “Representariam uma grave quebra de confiança e devem ser imediatamente suspensas.”
Monitorização no passado?
Se os Estados Unidos alguma vez monitorizaram o telemóvel de Angela Merkel, no passado, a linguagem diplomática dos porta-vozes da Casa Branca não o deixa entender. Um jornalista do jornal britânico The Guardian presente na conferência de imprensa fez a pergunta claramente à porta-voz Caitlin Hayden e obteve uma resposta evasiva: "Os EUA não estão a monitorizar e não vão monitorizar as comunicações da chanceler. Para além disso, não estou em posição de comentar publicamente nenhuma alegada actividade de recolha de informação."
Jay Carney sublinhou que Merkel e Obama concordaram em dialogar mais. “Os EUA estão a examinar a forma como obtemos informações”, adiantou. Os líderes norte-americano e alemão estão de acordo em que é preciso “intensificar a cooperação entre os serviços de informação, para melhor proteger os dois países”.
No início da semana, o jornal francês Le Monde revelou como a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos monitorizava as comunicações dos cidadãos franceses em geral, e dos diplomatas, baseando-se em documentos revelados pelo analista informático Edward Snowden, que trabalhou para a NSA. A Casa Branca admitiu que a forma como interceptava as comunicações francesas "permitia aos [seus] amigos e aliados levantar questões legítimas".
As escutas da NSA tinham sido um tema na campanha para as eleições alemãs de Setembro (o país tem algum trauma com serviços de informação, desde a Gestapo à Stasi), com a oposição a dizer que Merkel sabia que havia escutas da NSA a cidadãos alemães e que teria até violado o seu dever constitucional de proteger esses cidadãos. No único debate televisivo da campanha, Merkel tinha dito que não tinha qualquer informação de que estivessem a ser levadas a cabo escutas e que os EUA garantiam que isso não estava a acontecer. "Tenho de confiar, não tenho razões para não confiar", afirmou então Merkel.
A questão deverá agora tornar-se dominante na cimeira europeia de hoje e amanhã - o Presidente francês, François Hollande, já pediu para que fosse introduzida na agenda, e Merkel e Hollande têm marcada uma reunião bilateral para discutir a questão. O editor de Europa da BBC Gavin Hewitt diz que muitos outros países europeu deverão agora pedir clarificações aos EUA.