Oncologistas denunciam preços elevados de medicamentos contra o cancro

Nos EUA, o custo dos medicamentos “praticamente duplicou” na última década. Uma centena de médicos juntou-se para contestar esta política

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Oncologistas alertam para a barreira no acesso ao tratamento por parte dos doentes com rendimentos mais baixos Nelson Garrido

Na reflexão que publicaram na revista Blood, da Sociedade Americana de Hematologia, estes médicos abordaram aquilo a que os autores chamam a “espiral de preços” dos medicamentos para o tratamento de cancro, em particular os novos fármacos lançados no mercado.

O Gleevec, medicamento contra a leucemia mielóide crónica, que começou a ser comercializado nos EUA em 2001 por 30 mil dólares anuais (23 mil euros), custa hoje três vezes mais, embora tenham surgido cinco outros medicamentos do mesmo tipo, escrevem os autores – entre os quais se inclui Brian Druker, o principal autor do trabalho académico que levou ao desenvolvimento deste medicamento e que, segundo o New York Times, teve de "empurrar" a Novartis para se lançar na sua produção.

Nos Estados Unidos, o ponto de partida da análise, o custo dos medicamentos “praticamente duplicou” na última década, explicam os médicos, tendo como referência 12 fármacos aprovados pela autoridade norte-americana de controlo alimentar e de medicamentos (FDA).

Onze custavam mais de 100 mil dólares (77 mil euros) por ano. De cinco mil dólares (cerca de 3800 euros) por mês há uma década, passaram a custar dez mil dólares mensais (7690 euros), segundo o mesmo artigo.

“Entre os vários factores complexos envolvidos” até ser fixado o preço de um medicamento contra o cancro, os peritos encontram uma “fórmula simples” que se traduz num aumento do custo dos fármacos: por norma, dizem, o preço do medicamento mais recente é fixado no mercado com um valor 10 a 20% mais elevado.

O impacto do preço dos medicamentos nos doentes com cancro é diferente de país para país, consoante o seu sistema de saúde. No entanto, os oncologistas alertam de uma forma genérica que, nos casos em que os doentes têm de assumir parte do custo do medicamento, isso cria uma barreira no acesso ao tratamento por parte dos doentes com rendimentos mais baixos. Mas se for o sistema de saúde a assumir os encargos, ou boa parte dos encargos, em algum momento os custos hão-de tornar-se insustentáveis.

Muitos dos autores deste artigo têm laços com a indústria, mas afirmam os preços estão muito mais altos do que é preciso para sustentar a investigação científica que está na base da indústria farmacêutica. “Se se está a ter lucros de 3000 milhões de dólares por ano com o Gleevec, será que não se podia passar bem com 2000 milhões?”, comentou ao New York Times o médico Brian Druker. “Onde é se cruza a fronteira entre lucros necessários e ganhos indevidos?”.

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