Vitória de Maliki é curta mas dá-lhe legitimidade para ficar no poder no Iraque

Primeiro-ministro vai ter de negociar apoios, ao mesmo tempo que a violência aumenta em Falluja.

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Maliki conseguiu eleger 92 deputados num Parlamento de 328 Ali al-Saadi

Os resultados anunciados esta segunda-feira pelo Comissão Eleitoral ainda são provisórios: depois da Aliança para o Estado de Direito, de Maliki, ficaram os seus dois principais rivais árabes xiitas, o Conselho Islâmico Supremo do Iraque e o Ahrar, a formação leal ao radical Moqtada al-Sadr (no conjunto, obtiveram 57 lugares).

Só depois aparecem os blocos liderados por árabes sunitas – o Mutahidoun, chefiado por um antigo líder do Parlamento, com 23 lugares; o Iraqiya, do ex-primeiro-ministro Ilyad Allawi (que junta sunitas e xiitas, como o próprio Allawi), com 21 deputados; e a lista de Saleh al-Mutlaq, ex-vice de Maliki. Votaram 62% dos 22 milhões de eleitores registados para escolher o Parlamento de 328 lugares.

Muitos tinham recusado a ideia de Maliki assumir um terceiro mandato, incluindo os partidos de Allawi, de Sadr e os curdos do presidente da região autónoma do Curdistão, liderados por Massoud Barzani. Todos consideram que o seu segundo mandato foi desastroso e acusam-no de ter falhado em travar a nova espiral de violência sectária, que desde o início do ano fez mais de 3500 mortos.

Apesar de se mostrar confiante durante a campanha, antes dos primeiros resultados Maliki já enviara aos rivais uma carta onde propõe um programa de coligação para o futuro governo (em 2010, foram precisos quase dez meses para formar governo). A missiva fala na necessidade de proteger os direitos das mulheres, de uma distribuição justa das riquezas do país e rejeita as políticas sectárias.

Tudo isto é fácil de enunciar mas muito complicado de executar. Principalmente se se tiver em conta que parte das divisões sectárias actuais começaram com medidas tomadas pelo próprio Maliki. Antes de chegar à chefia do Governo, em 2006, Maliki fez parte do comité que realizou a desbaasificação (expurgando da função pública os membros do Baas, de Saddam Hussein, uma das medidas que os próprios norte-americanos admitiram ter estado na origem de grande parte da violência dos piores anos da guerra civil), tendo assumido depois a chefia da Comissão da Segurança do parlamento transitório – aí, foi um dos promotores de uma lei antiterrorista que os sunitas, que se consideram marginalizados e perseguidos pelas autoridades xiitas, dizem ter sido escrita para prender opositores e críticos.

Não foi possível realizar eleições num terço da província ocidental de Anbar, árabe sunita. A cidade de Falluja continua sob controlo do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS), grupo jihadista com ligações à Al-Qaeda e que cresceu com o caos do conflito na Síria. Quase 4500 pessoas já abandonaram a região desde Janeiro e só nos últimos dias fugiram mais de 1100 famílias (perto de 6000 pessoas), diz à Reuters a deputada Liqa Wardi.

As tribos da região temem o ISIS mas receiam ainda mais o Exército de Maliki, pelo que muitas se aliaram aos jihadistas estrangeiros. Na última semana, os bombardeamentos intensificaram-se, com muitos residentes a denunciarem o recurso a barris repletos de explosivos (uma táctica que as forças do sírio Bashar al-Assad têm usado com frequência). Ninguém está a ganhar a guerra – e Bagdad ainda fala em lançar uma “grande ofensiva” – mas de acordo com responsáveis médicos e diplomatas que falaram à Reuters, pelo menos 6000 soldados morreram e 12 mil desertaram.

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