Violência regressa à Taksim em protesto contra a nova lei da Internet

Os críticos da lei pedem ao Presidente Abdullah Gül que não a promulgue e que a reenvie para o Parlamento.

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A polícia empurrou a multidão da Taksim com gás lacrimogéneo e canhões de água Bulent Kilic/AFP

“Não toques na minha Internet”, gritaram os manifestantes, mais de dois mil segundo as agências de notícias. A polícia antimotim, que bloqueou o acesso à praça símbolo do movimento de contestação do Verão passado, recorreu a granadas de gás lacrimogéneo e a canhões de água para empurrar a multidão na direcção da Istiklal, a grande avenida pedonal da cidade. Em resposta, alguns manifestantes lançavam fogo-de-artifício e pedras na direcção dos polícias.

A lei que existia já permitia que a Internet fosse um espaço controlado, mas com as novas alterações, a autoridade que supervisiona as telecomunicações na Turquia vai poder bloquear e remover qualquer conteúdo que “ataque a vida privada” ou seja considerado “discriminatório ou insultuoso” quatro horas depois de uma denúncia, sem precisar de pedir uma ordem judicial. O mesmo organismo poderá a partir de agora “reunir dados de comunicações sobre todos os utilizadores de Internet sem restrições ou limites legais”.

Os críticos da lei pedem ao Presidente Abdullah Gül que não a promulgue e que a reenvie para o Parlamento.

“O Governo meter o nariz nos dossiers dos internautas é como meter o nariz na nossa vida privada”, disse à AFP Gamze, uma estudante presente na manifestação. Burak, outros do que integrou o protesto, acusou o Governo de autoritarismo crescente. “Uma das últimas liberdades que nos sobram é a da Internet, vejam o que eles querem limitar.”

Noutro ponto da cidade, Erdogan falava aos seus partidários e defendia precisamente a nova lei, assegurando que torna a Internet “mais livre”. “Não há qualquer censura imposta com as novas disposições”, disse, num discurso durante a cerimónia de inauguração de uma série de projectos urbanísticos.

Erdogan está fragilizado por um caso de corrupção, que envolve alguns dos seus principais aliados e que já o obrigou a deixar cair vários ministros. Isto quando se aproximam as eleições municipais de Março e as presidenciais previstas para Agosto, quando os turcos vão pela primeira vez escolher directamente o seu chefe de Estado, até aqui escolhidos pelos deputados. Com os seus mandatos à frente do Governo esgotados, Erdogan ambiciona agora o lugar de Gül.

Muitos turcos não esquecem a violência com que as forças de segurança responderam à vaga de protestos do ano passado. As primeiras manifestações pacíficas aconteceram contra a demolição do Parque Gezi, junto à Taksim. A resposta repressiva só encheu mais as ruas e os protestos chegaram a 79 das 91 províncias do país. 

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