Deputados aprovam legalização da marijuana no Uruguai

Diploma que coloca nas mãos do Estado a produção e controlo desta droga passou na Câmara dos Deputados e segue para o Senado.

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A lei estabelece limites para o número de plantas em cada casa Justin Sullivan/AFP

O diploma foi aprovado no final do dia de quarta-feira depois de um longo debate de 14 horas, uma vez que esta alteração – cuja intenção foi anunciada pela primeira vez no ano passado e que chegou a ser retirada – foi bastante controversa no país sul-americano. O texto passou com 50 dos 96 deputados a votarem a favor da nova legislação, o que foi possível graças à Frente Ampla, escreve a AFP.

Esta coligação do Presidente do Uruguai, José Mujica, e que integra socialistas, comunistas e tupamaros, tem também maioria no Senado pelo que não deverão existir dificuldades no último passo que a legislação terá de ultrapassar.

O deputado Sebastian Sabini, que conduziu a elaboração da lei, reforçou na quarta-feira que o objectivo “não é promover o consumo, porque o consumo já existe”, mas sim acabar com os cartéis e com o mercado negro que impulsionam a criminalidade organizada. Já o deputado Gerardo Amarilla, do Partido Nacional, o maior da oposição, afirmou que se está a “brincar com o fogo” e a “sacrificar uma geração” com o propósito de aumentar as receitas públicas.

A aprovação na Câmara dos Deputados foi seguida de uma ovação. O projecto, criticado por uns e elogiado por outros que o consideram inovador, prevê que o Estado “assuma o controlo e a regulação da importação, exportação, plantação, cultura, recolha, produção, aquisição, armazenamento, comercialização e distribuição da cannabis e seus derivados”.

Registo nacional de consumidores

Até agora o consumo de marijuana no Uruguai não era alvo de qualquer penalização, ao contrário do comércio. Se o texto passar no Senado, será também criado o Instituto de Regulação e Controlo de Cannabis, que ficará responsável por acompanhar toda a implementação da legislação. Os consumidores devem ser maiores de idade e ter residência no Uruguai e devem ainda inscrever-se numa base de dados que prevê que possam adquirir 40 gramas de marijuana por mês nas farmácias autorizadas.

Quanto à produção, cada pessoa poderá ter seis plantas para uso pessoal e podem ser criados clubes de consumidores com 15 a 45 pessoas que podem ter até 99 plantas. Em relação à produção, o estado do Colorado, nos Estados Unidos, já tem regras semelhantes, e a possibilidade existe também em Espanha, diz a AFP.

Foi em Junho de 2012 que o Governo do Uruguai anunciou pela primeira vez que estava a preparar uma nova legislação no sentido legalizar a produção e consumo de marijuana e que ficaria nas mãos do Estado. A medida fazia parte de um pacote de 15 mudanças que o Executivo constituído pela coligação Frente Ampla estava a preparar para combater a insegurança sentida no país – em muito relacionada com o tráfico e consumo ilegal de estupefacientes.

Na altura José Mujica, antigo guerrilheiro tupamaro que foi eleito Presidente em 2010 e lidera o Executivo da coligação, adiantou que a venda a estrangeiros será proibida para evitar o turismo associado ao consumo de droga. Disse ainda que a ideia é que apenas o Estado possa plantar e vender marijuana a um grupo de adultos que estaria registado numa base de dados e, com isso, evitar também o consumo das chamadas drogas duras.

Mais tarde, em Dezembro, o Presidente do Uruguai recuou na intenção de legalização justificando que a decisão não estava “madura”, acrescentando que o povo tem de querer este tipo de medida e que não a deve impor só porque detém maioria. Porém, neste ano os deputados retomaram a ideia.

A marijuana é apenas uma pequena parte de todo o narcotráfico, pelo que, mesmo com a legalização deste droga, ainda fica aberta uma grande porta para o mercado negro. Estima-se que só a marijuana represente um volume anual de 75 milhões de dólares, avança a BBC. As estatísticas do país indicam que cerca de 20% dos 3,3 milhões de uruguaios já consumiram pelo menos uma vez marijuana, indica a Reuters. Além disso, um estudo realizado pelas Nações Unidas em 2010 indica que 25% dos crimes cometidos por adolescentes que se encontram nos centros para menores do país estiveram relacionados com o consumo ou compra de álcool e droga.

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