Um crime bárbaro
Eyal, Gilad e Naftali estão mortos, vítimas de uma cultura de ódio que cresce imparável em toda a região.
Ninguém reclamou publicamente a autoria do acto, ninguém exigiu resgate, nem fez qualquer tipo de exigências – nomeadamente aquela que Israel já conhece pela sua frequência: a libertação de prisioneiros palestinianos, como condição de devolução de reféns israelitas – vivos ou mortos. Nos últimos 30 anos milhares de palestinianos foram assim soltos por Israel em cumprimento da máxima bíblica “Somos sim os guardas dos nossos irmãos” que tem levado o país a salvar a vida dos seus cidadãos feitos reféns, mesmo a um preço absolutamente desproporcionado. O último desses reféns foi o soldado Gilad Shalit, que, depois de cinco anos preso pelo Hamas sem que ninguém soubesse se estava vivo ou morto, ficou a dever a vida e a liberdade à sua troca em 2011 por 1027 prisioneiros palestinianos.
Apesar de não ter reivindicado o rapto, Khaled Mashal, leader máximo do Hamas, congratulou-se e abençoou os seus autores, apelando a mais acções deste tipo. Dirigentes, militantes e activistas do movimento festejaram o acontecimento, nomeadamente através de caricaturas ignóbeis nos sites e suportes mediáticos. Enquanto isso, Israel lançou uma operação de grande envergadura para encontrar os três adolescentes. Até esta terça-feira não sabíamos o desfecho desta busca, nesta quarta-feira sabemos: Eyal, Gilad e Naftali foram bárbara e friamente assassinados, ao que tudo indica por dois terroristas do Hamas, cujos nomes foram divulgados por Israel. Se um rapto, qualquer rapto, é um acto de terror, o assassinato dos reféns é uma barbaridade sem nome, nomeadamente quando as vítimas são jovens inocentes, mal saídos da adolescência. “O direito internacional existe para manter a lei em ordem por todo o mundo… para impedir qualquer indivíduo ou Estado de perseguir ou matar civis…”, escreveu aqui no PÚBLICO o senhor embaixador da Palestina em Portugal, no passado dia 29, desafiando a comunidade internacional a condenar vigorosamente Israel. Esqueceu-se apenas que esse direito e essa lei também se aplicam ao Governo que ele representa e de que o Hamas também faz parte.
Israel é um país onde a polémica política é permanente, feroz e completamente livre: opositores da “colonização” e da “ocupação” manifestam-se ruidosamente contra os defensores do “Grande Israel”, das “implantações” e dos “settlements” – a linguagem e os termos variam consoante as opções políticas, religiosas ou ideológicas. Mas numa coisa existe uma unanimidade absoluta: a defesa da vida e da segurança dos seus filhos. “Juntos pelo seu regresso”, “Tragam os nossos rapazes” foram algumas das palavras de ordem que se fizeram ouvir na manifestação que reuniu no passado domingo perto de 100 mil pessoas na Praça Rabin, em Telavive, e onde a mãe de Naftali agradeceu publicamente ao presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, pela sua condenação do rapto. Coisa que o seu embaixador em Portugal não soube fazer num artigo cheio de ódio em que classifica o rapto como “desaparecimento dos três colonos israelitas”, destituindo-os assim da sua qualidade primeira: a de simples seres humanos.
Hoje, os meninos estão mortos vítimas de uma cultura de ódio que cresce imparável em toda a região. Israel e todo o mundo judaico choram os seus filhos, porque cada homem, cada mulher, cada criança morta é um pouco do seu próprio coração que se quebra. Da Europa e dos EUA chegaram as condolências e as condenações. Mas mais uma vez Israel estará só para garantir a sua segurança e a dos seus cidadãos. O que fará sem hesitar porque esse é o seu dever e a razão da sua existência.
Especialista em questões judaicas