UKIP elegeu o seu primeiro deputado e provocou novo abalo na política britânica
Partido antieuropeu roubou deputado aos conservadores e quase venceu eleições intercalares num bastião dos trabalhistas no Norte. Farage diz que poderá ser o "fiel da balança" nas legislativas de Maio.
Nigel Farage, o líder e até agora único rosto do partido, desdobrou-se em frases triunfalistas, após a vitória nas eleições intercalares em Clacton, círculo no Oeste de Inglaterra, que Douglas Carswell conquistou por larga maioria nas legislativas de 2010 e que quinta-feira o reelegeu sem contestação (com 60% dos votos), agora sob a chancela do UKIP. “Há algo grande a acontecer” na política britânica, afirmou Farage, dizendo que é “demasiado tarde” para os três grandes partidos reconquistarem a confiança dos eleitores. Numa entrevista à BBC foi mais longe ao afirmar que se, como as sondagens indicam, nem os tories nem os trabalhistas conseguirem maioria absoluta nas eleições de Maio, o UKIP “pode estar em condições de ser o fiel da balança” que decidirá quem vai governar.
Declarações que soam a optimismo exagerado – o partido, adiantou o jornal Telegraph, vai concentrar a campanha em nove círculos que acredita poder vencer e os analistas dizem que o sistema uninominal que rege a eleição parlamentar torna improvável que Farage consiga mais do que um punhado de deputados entre os 650 lugares disponíveis. Mas o líder populista tornou-se especialista em contrariar previsões e a tornar possível o impossível.
Foi isso que quase aconteceu em Heywood e Middleton, circunscrição da região metropolitana de Manchester que o Labour domina há duas décadas. Liz McInnes, escolhida para substituir o deputado Jim Dobbin, que morreu no mês passado, venceu com apenas mais 617 votos do que o candidato do UKIP, que conseguiu remeter os conservadores para terceiro lugar e aumentou a votação do partido de 3% em 2010 para 38%. “Isto é ainda mais significativo” do que a vitória em Clacton, disse Farage, pois mostra que o UKIP “é o mais nacional de todos os partidos”, o único que consegue superar “as divisões tradicionais de esquerda e direita” e ganhar votos em todas as regiões.
Há muito que o crescimento dos populistas vem abocanhando os votos que os conservadores precisam para continuar a sonhar com a vitória em 2015, sem que as cedências de Cameron aos eurocépticos e o endurecimento da política de imigração tenham estancado a fuga de apoios. A última linha de defesa dos tories, que Cameron repetiu nesta sexta-feira, é a de “quem dormir com o UKIP pode acordar com Ed Miliband como primeiro-ministro”.
Mas o líder trabalhista não tem também razões para sorrir. A quase perda de Middleton “marcou o início do ataque ao eleitorado de base do Labour que tem sido negligenciado”, avisou o deputado Frank Field, dando voz às críticas internas que continuam a perseguir Miliband, considerado por uns demasiado à esquerda, por outros como estando distante das preocupações dos trabalhadores – críticas que engrossaram depois de no último congresso ter esquecido a parte do discurso em que deveria ter falado do défice e da imigração.
Farage tem a 6 de Novembro a hipótese de eleger o seu segundo deputado – como Carswell, o deputado Mark Reckless pediu aos eleitores para validarem a sua decisão de deixar a bancada dos tories e juntar-se ao UKIP – e diz acreditar que outros conservadores vão desertar para se juntar às suas fileiras. John Curtice, perito em assuntos eleitorais da Universidade de Strathclyde, diz ser ainda muito cedo para perceber se Farage consegue manter o impulso e ultrapassar as barreiras do sistema uninominal, mas de uma coisa está certo: “Em 2015 a batalha vai ser entre pelo menos quatro partidos” o que faz das próximas legislativas “uma competição eleitoral muito diferente de qualquer outra no pós-guerra”.