UE muda de posição e ameaça Kiev com sanções para tentar forçar um compromisso

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A União Europeia começou a nascer depois da II Guerra Mundial Reuters

Apanhados de surpresa com a súbita escalada da repressão contra os manifestantes pró-europeus da Praça Maidan, em Kiev, os ministros europeus dos Negócios Estrangeiros operaram uma viragem de 180 graus face à recusa expressa há apenas 10 dias de avançar com sanções e preparam-se para aprovar uma série de medidas dirigidas especificamente contra os responsáveis pela violência.

As sanções, que serão debatidas  durante uma reunião convocada de emergência para a tarde de quinta-feira, em Bruxelas, deverão incluir o congelamento dos bens financeiros detidos na UE pelos responsáveis pela violência, a par da proibição da sua entrada no território dos 28, em conjunto com um embargo à venda de armas e de equipamentos passíveis de serem usados contra os manifestantes.

Quando os ministros se reunirem “têm de debater que tipo de sanções específicas deverão ser impostas para mostrar que estamos a falar a sério” na exigência de que as negociações entre o Governo e a oposição “deverão ser retomadas”, afirmou Angela Merkel, chanceler alemã, depois de um encontro em Paris com o Presidente francês, François Hollande, para quem “o que está a acontecer na Ucrânia é inenarrável, inaceitável, intolerável”.

Por agora, os 28 deverão deixar Viktor Ianukovich, o presidente ucraniano, de fora destas sanções, de modo a poderem manter o diálogo com vista à resolução do conflito.

Antes da reunião dos ministros, aliás, os chefes da diplomacia da Alemanha,  França e Polónia deslocam-se a Kiev para falar directamente com Ianukovich que, na terça-feira à noite, recusou falar ao telefone com Merkel e Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.

“Com os meus homólogos polaco e alemão, decidimos ir a Kiev amanhã [quinta-feira] de manhã para recolher as últimas informações antes da reunião de Bruxelas”, afirmou o ministro francês Laurent Fabius à margem de um encontro com o secretário de Estado americano, John Kerry, que disse que os Estados Unidos se preparam para seguir os passos da UE.

“Estamos a falar sobre a possibilidade de sanções ou outras medidas com os nossos amigos na Europa” para “tentar criar o ambiente para um compromisso”, disse Kerry, cujo país defende há meses um endurecimento de tom face a Kiev.

Ao invés, os europeus têm assumido uma posição menos clara, antes de mais por saberem que a panóplia de sanções ao seu dispor terá um efeito muito reduzido, como provam as medidas do mesmo género assumidas há vários anos contra outros países, como o Zimbabwe ou a Bielorússia, sem qualquer efeito sobre os respectivos responsáveis.

Mais importante ainda, porém, as hesitações dos europeus resultam das suas divisões e falta de estratégia face à Ucrânia desde que Yanukovicth se retirou à última hora, e sob a pressão da Rússia, de um ambicioso acordo de associação político e comercial com a UE, levando milhares de pessoas a protestar desde então na Praça Maidan ao preço de vários confrontos com a polícia.

Enquanto países como a Polónia ou Suécia têm defendido a aplicação de sanções para forçar o diálogo entre Governo e oposição, outros países, sobretudo os vizinhos bálticos, argumentam com o risco de medidas deste tipo poderem endurecer ainda mais a repressão.

Os europeus também estão divididos sobre o que oferecer para Kiev se distanciar de Moscovo – que continua a encarar a ex-república soviética como parte da sua zona de influência – e assumir um futuro “europeu”. A maioria dos Governos não está disposta a oferecer à Ucrânia o que uma parte dos seus nacionais esperariam – a perspectiva de uma futura adesão à UE – o que os leva a assumir uma linguagem ambígua sobre uma possível “aproximação” ou o desenvolvimento de “relações estreitas” com Kiev.

O Banco Europeu de Investimento (BEI), a instituição financeira da UE, anunciou igualmente na quarta-feira o congelamento dos seus financiamentos na Ucrânia, que incluem uma linha de metro, a modernização do sistema de controle aéreo e pequenas e médias empresas. “Por agora a situação é tão cruel que que seria um sinal politicamente errado, mas igualmente irresponsável (...), continuar as actividades na Ucrânia”, justificou Werner Hoyer, presidente do BEI, que pretende esperar pelo resultado da reunião dos 28 para decidir o que fazer.

 

 

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