Tribunal turco ordena bloqueio de sites com a capa do Charlie Hebdo

Polícia fez buscas na redacção do jornal que anunciou ir publicar parte do conteúdo do semanário francês. Jornais satíricos turcos fazem capa igual a dizer "Je suis Charlie".

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A capa igual dos três jornais satíricos turcos DR
O primeiro-ministro da Turquia participou na marcha de Paris
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O primeiro-ministro da Turquia participou na marcha de Paris ERIC FEFERBERG/AFP

A Turquia é um país de regime conservador islâmico governado pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan. Na terça-feira, quando muitos jornais do mundo se preparavam para reproduzir, em papel e na Net, a primeira capa do Charlie após o ataque extremista em que foram mortos 12 pessoas, o jornal turco da oposição Cumhuriyet fez saber que publicaria, na edição desta quarta-feira, partes do conteúdo do semanário satírico francês.

Porém, a polícia realizou buscas na redacção para tentar travar a distribuição do jornal, que acabou por sair para as bancas depois de os seus responsáveis terem dado garantias em como a caricatura de Maomé não seria incluída, segundo conta a edição online do jornal turco Hurriyet.

"Enquanto preparávamos esta selecção, tivemos em atenção as sensibilidades religiosas assim como a liberdade de crença, em linha com os nossos princípios editoriais", disse o director do Cumhuriyet, Utku Çakirözer. "Não incluímos a capa da revista depois de uma longa deliberação", acrescentou. A religião muçulmana proíbe a representação dos profetas. 

As buscas foram ordenadas pelo Ministério Público, disse ainda Çakirözer. "Não deveria ser assim, a liberdade de expressão devia ser defendida por toda a sociedade."

Já os três jornais satíricos turcos, o Leman, o Penguen e o Uykusuz, que saem para as bancas quinta-feira, optaram por uma capa comum – um fundo negro com a frase "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie). Num comunicado comum, as três redacções explicaram querer permanecer unidos na homenagem aos seus pares assassinados pelos radicais em Paris; "Desejamos um mundo governado pela linguagem da paz e no qual a liberdade de pensamento não seja oprimida e que os media não sejam atacados".

Da Turquia surgem com cada vez mais frequência notícias sobre restrições à liberdade de expressão. Em Dezembro, as autoridades iniciaram uma campanha de detenções de directores de jornais e estações de televisão, e várias figuras ligadas aos media, considerando-os suspeitos de terem ligação ao imã Fethullah Gülen, que de aliado político passou a arqui-inimigo de Erdogan. Gulën – vive nos EUA desde 1998 – está acusado pelo Ministério Público turco de liderar uma organização criminosa que tem como objectivo a imposição de um estado paralelo.

Muitos cartoonistas têm denunciado perseguições – algumas concretizadas em processos judiciais – devido aos seus desenhos que retratam Erdogan. E um cidadão, um professor de Matemática de 29 anos, Bayram Ali Hanedar, foi detido pela polícia por participar numa manifestação com um cartaz que mostrava o Presidente a cortar fatias de um churrasco que representava a democracia. Se for a julgamento, pode ser condenado a três anos de prisão.

"Constato que toda a gente tem medo, o que é normal. A liberdade de expressão caiu para um nível muito baixo", disse também em Dezembro o escritor turco e Prémio Nobel da Literatura Orhan Pamuk.

Apesar desta realidade, o primeiro-ministro da Turquia, Ahmet Davutoglu, participou no domingo na marcha de Paris pela liberdade de expressão e contra o terrorismo.

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